SÓ HÁ UM LUXO VERDADEIRO: AS RELAÇÕES HUMANAS…
Erick Morais
A fugacidade da vida é algo fascinante e ao mesmo
tempo aterrorizante. Em dado momento estamos fazendo planos, sonhando com o
futuro e de repente anos já se passaram e todo aquele entusiasmo de outrora já
não existe. Sendo assim, estamos sempre correndo contra a finitude do tempo,
buscando de algum modo impedir que os sinos toquem. Dada a sua finitude, a
vida, portanto, deve ser valorizada, já que é isso que lhe confere valor. E,
quando chego nesse ponto, questiono-me se estamos vivendo vidas que merecem ser
vividas.
Estamos cada vez mais condicionados a uma vida voltada
para o consumo, em que há uma desvalorização por completo do ser, uma vez que
nesse jogo a única coisa que importa é o “ter”. Desse modo, passamos a vida
acumulando coisas, embora, tenhamos vidas vazias, solitárias e desprovidas de
amor.
Estamos sempre falando, correndo de um lado a outro do
palco, como disse Shakespeare, à procura de plateias que nos escutem.
Entretanto, não estamos dispostos a ouvir ninguém, já que não nos preocupamos
minimamente com nada que não gire em torno do nosso ego, tampouco, existe
vontade de colocar-se no lugar de outrem, buscando de algum modo sentir a sua
dor.
Estamos sempre fazendo contas, buscando equações que
nos tornem mais poderosos e bonitos aos olhos da sociedade e, assim, nos
transformamos em máquinas que fazem sempre a mesma coisa, seguindo as regras e
ditames determinados pelos símbolos de sucesso e felicidade. Desse modo, como
podemos fazer falta sendo completamente iguais aos outros? Sem algo que nos
torne únicos? Sem idiossincrasias?
Estamos querendo levar vidas importantes e por isso
nos cercamos de riquezas e sorrisos de pessoas que o máximo que conhecem é o
nosso nome. Mas, isso pouco importa quando se está em um carro zero importado,
não é? Todavia, ser importante é ter uma vida que chegada ao fim, continua
existindo nos sentimentos e lembranças importados por alguém que nos amara.
Estamos em plena era da conexão, mas vivemos isolados
em nossas ilhas afetivas, protegidos pelos muros do individualismo e cobertos
por uma rede wireless de egoísmo. Não dizemos mais eu te amo, apenas não me
“delete”. Fingimos que o mundo é plural, entretanto a diversidade não possui
lugar diante do ódio e da intolerância.
Estamos sempre felizes, mesmo que essa felicidade seja
esvaziar um Shopping Center ou esteja em um comprimido, afinal, não há espaço
para a fraqueza em um mundo repleto de belezas e alegrias. Mas, se algo
continua a incomodar, nada que mais algum divertimento consumista não resolva
ou quem sabe mais uma pílula da felicidade.
Diante disso, volto à pergunta inicial: estamos
levando vidas que merecem ser vividas? Acredito que não, já que em nome do Deus
“Mercado”, nós valorizamos apenas coisas e, assim, ficamos condicionados e
adestrados, servindo obedientemente a um estilo de vida individualizante,
egoísta e opressor, o qual renega o que há de mais divino na vida, a conexão
entre duas pessoas, algo que deveria ser a nossa maior preocupação e a nossa
maior riqueza, já que na vida o único troféu que ganhamos é ter o nosso eu
ecoando dentro de outro coração. No entanto, isso é apenas para quem ainda não
se transformou em cogumelo e não se esqueceu, como disse Saint-Exupéry, de que
na vida:
“Só há um luxo
verdadeiro: as relações humanas.”
Sobre o Autor:
Erick Morais
Poderia dizer o que faço, onde moro; mas,
sinceramente, acho clichê. Meus textos falam muito mais sobre mim. O que posso
dizer é que sou um cara simples. Talvez até demais. Um sonhador? Com certeza.
Mais que isso. Um caso perdido de poesia ou apenas um menestrel caminhando
pelas ruas solitárias da vida.
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