Papa: sem o
hábito do perdão, a família adoece e aos poucos desmorona
As crianças aprendem a perdoar quando percebem que os pais
se perdoam mutuamente
Na noite de sábado, a grande Festa das Famílias reuniu
no Croke Park Stadium quase 80 mil
pessoas de 114 países. Momentos de muita emoção marcados por testemunhos,
momentos de oração, danças ao som de músicas típicas irlandesas. Crianças,
jovens, adultos, idosos compartilhando juntos a alegria de ser família.
As palavras do Santo Padre aos presentes foram de
alegria, encorajamento e muita esperança. Um pronunciamento, interrompido
diversas vezes por aplausos.
“Com o
testemunho de vocês do Evangelho, vocês podem ajudar Deus a realizar seu sonho.
Vocês podem contribuir para aproximar todos os filhos de Deus, para que cresçam
na unidade e aprendam o que significa para o mundo inteiro viver em paz como
uma grande família”.
Fazendo alguns acréscimos de improviso, o Papa pede
que as crianças sejam batizadas ainda pequenas, porque uma criança assim, com o
Espírito Santo, é mais forte.
Para ser verdadeiramente alegria para o mundo, nas
famílias se deve poder encontrar Jesus, sublinha o Papa. A família, como
“farol”, deve de fato irradiar a alegria do amor de Deus no mundo, isto é,
irradiar esse amor “através de pequenos
gestos de bondade na rotina diária”.
Trata-se de ser aqueles “santos da porta ao lado” a quem o Papa frequentemente se refere. É
algo que não precisa de “toques de
trombeta”, mas está presente silenciosamente nos corações de todas aquelas
famílias que oferecem “amor, perdão e
misericórdia”.
“O matrimônio
cristão e a vida familiar são entendidos em toda a sua beleza” se “ancorados no
amor de Deus”, reitera. Pais e mães, filhos e netos, avós e avôs, e
também sogras e noras: com a graça de Deus, pode-se entender e perdoar, mesmo
que não seja fácil. Como para preparar um chá você precisa fazer uma infusão,
assim é preciso tempo e paciência na família.
Em seu pronunciamento, o Papa responde aos diferentes
testemunhos que foram feitos anteriormente. A família de Burkina Faso
testemunhou a experiência do perdão. De fato, são precisamente os “pequenos e simples gestos de perdão,
renovados a cada dia”, aquele fundamento sobre o qual se constrói “uma sólida vida familiar cristã”.
Muitas vezes – acrescenta – queremos fazer as pazes,
mas não sabemos como. Ele então convida a repetir as três palavras-chave da
família: “perdão”, “por favor” e “obrigado”.
E a paz deve ser feita antes de ir dormir, caso
contrário, no dia seguinte, acontece a “guerra
fria”. Francisco sem meio termo, portanto, apresenta a importância do
perdão:
Não existe família perfeita; sem o hábito do perdão, a
família adoece e aos poucos desmorona. Perdoar significa dar algo de si mesmo.
De fato, as crianças aprendem a perdoar quando percebem que os pais se perdoam
mutuamente.
Então o Papa se refere ao testemunho de Ted e Nisha,
que junto com seus filhos vieram da Índia. No centro, a relação com as redes
sociais que – diz Francisco – “podem
ser benéficas se usadas com moderação e prudência”, mas não devem se
tornar uma ameaça à rede de relacionamentos autênticos, de carne e osso,
aprisionando em uma “realidade virtual”
como quando as pessoas da mesa ao invés de falarem umas com as outras, olham
para o celular.
A história dessa família indiana pode, portanto,
ajudar todas as famílias – observa o Papa – a questionar sobre a necessidade de
reduzir o tempo gasto com esses meios tecnológicos e gastar mais tempo de
qualidade na família e com Deus.
Do testemunho do casal iraquiano que se refugiou na
Austrália, o Papa sugere que as famílias da sociedade gerem a paz “porque ensinam amor, aceitação e perdão”,
que são os “melhores antídotos” contra
a vingança. Como fizeram após a morte do pai Ganni, irmão de sua esposa, nas
mãos de milicianos: eles viram concretamente que “o mal só pode ser combatido
com o bem e o ódio superados apenas pelo perdão”.
Francisco, então, agradece o testemunho de amor e fé
da família irlandesa, com dez filhos. “É
lindo – diz o papa – ter dez filhos!” Os pais, quando meninos, acabaram no
túnel de drogas, mas eles saíram:
“O amor de
Cristo que renova todas as coisas é o que torna possível o casamento e um amor
conjugal marcado pela fidelidade, indissolubilidade, unidade e abertura à vida.
Isso é o que eu queria destacar no quarto capítulo da Amoris laetitia”.
E novamente a história de Aldo e Marissa. Casados há
mais de 50 anos, eles vêm do Canadá e estão presentes junto com seus netos. A
experiência deles diz ao Papa que “uma
sociedade que não valoriza os avós é uma sociedade sem futuro”. E que “uma Igreja que não tem coração, a aliança
entre gerações acabará carecendo daquilo que realmente importa, o amor”.
Então precisamos conversar com os idosos.
O testemunho de Missy Collins, representante das
famílias nômades irlandesas, que viveram injustiças, recorda então que na mesa
de Deus há espaço para todos e ninguém deve ser excluído.
“Sejam a
esperança da Igreja e do mundo!”, conclui o Papa. Precisamente
por este motivo lhes dei uma cópia de Amoris laetitia que – recorda – “escrevi para ser uma espécie de guia para
viver o Evangelho da família com alegria”.
Depois, um silêncio repleto de atenção cria o ambiente
da Oração Oficial para este Encontro, que o Papa recita pedindo a Deus que
proteja todas as famílias com seu amor.
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