Sabemos como tornar o mundo mais justo, o planeta mais sustentável, as
mulheres mais representativas, o corpo mais saudável. Fazemos cada vez menos
política na vida (e mais no Facebook), lotamos a internet de selfies... e
esquecemos de comentar que na última festa todos os nossos amigos tomaram bala
para curtir mais a noite. Ao contrário do que defendemos, compartilhando o post
da cerveja do momento, bebemos mais e bebemos pior.
Entendemos que as bicicletas podem salvar o mundo da poluição e a nossa
rotina do estresse. Mas vamos de carro ao trabalho porque sua, porque chove,
porque sim. Vimos todos os vídeos que mostram que os fast-foods acabam com a
nossa saúde – dizem até que tem minhoca na receita de uns. E mesmo assim
lotamos as filas do drive-thru porque temos preguiça de ir até a esquina
comprar pão. Somos a geração que tem preguiça até de tirar a margarina da
geladeira.
Preferimos escrever no computador, mesmo com a letra que lembra a velha
Olivetti, porque aqui é fácil de apagar. Somos uma geração que erra sem medo
porque conta com a tecla apagar, com o botão excluir. Postar é tão fácil (e
apagar também) que opinamos sobre tudo sem o peso de gastar papel, borracha,
tinta ou credibilidade.
Somos aqueles que acham que empreender é simples, que todo mundo pode
viver do que ama fazer. Acreditamos que o sucesso é fruto das ideias, não do
suor. Somos craques em planejamento Canvas e medíocres em perder uma noite de
sono trabalhando para realizar.
Acreditamos piamente na co-criação, no crowdfunding e no CouchSurfing.
Sabemos que existe gente bem intencionada querendo nos ajudar a crescer no
mundo todo, mas ignoramos os conselhos dos nossos pais, fechamos a janela do
carro na cara do mendigo e nunca oferecemos o nosso sofá que compramos pela
internet para os filhos dos nossos amigos pularem.
Nos dedicamos a escrever declarações de amor públicas para amigos no seu
aniversário que nem lembraríamos não fosse o aviso da rede social. Não nos
ligamos mais, não nos vemos mais, não nos abraçamos mais. Não conhecemos mais a
casa um do outro, o colo um do outro, temos vergonha de chorar.
Somos a geração que se mostra feliz no Instagram e soma pageviews em
sites sobre as frustrações e expectativas de não saber lidar com o tempo, de
não ter certeza sobre nada. Somos aqueles que escondem os aplicativos de
meditação numa pasta do celular porque o chefe quer mesmo é saber de
produtividade.
Sou de uma geração cheia de ideais e de ideias que vai deixar para o
mundo o plano perfeito de como ele deve funcionar. Mas não vai ter feito muita
coisa porque estava com fome e não sabia como fazer arroz.
(Marina
Melz)
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