Por:
Cleonio Dourado
Tem gente que anda tão preocupado em se mostrar bem e agradar, que acaba
se perdendo de si mesmo. Quando a pessoa se deixa seduzir pelas tentações do
ego e da vaidade, acaba entregando a vida para uma viagem só de ida. Só na
tela.
São tantos que vivem iludidos por espelhos de pequenas ilusões e
escondidos atrás de cortinas de grandes mentiras, que com o passar do tempo
perdem a noção da realidade. Já não conseguem viver sendo verdadeiros. É há uma
cobrança coletiva por baixo disso. Somos cobrados pelo sucesso alheio e
incentivados a sermos iguais. Mal sabemos que, em algumas situações, por detrás
de uma foto postada, quase sempre há máscaras, quase sempre há pessoas com a
alma ferida, tentando se mostrar fortalecidas.
Quando a pessoa se deixa seduzir pelas tentações do ego e da vaidade,
acaba entregando a vida para uma viagem só de ida. Só na tela. Tentar competir
com o mundo é a melhor e mais rápida maneira de ser derrotado.
Existe um enquadramento relacionado entre as redes sociais e sua fábrica
de ilusões. Parece absurdo, mas, na maioria das vezes, só postamos aquilo que
queremos que os outros vejam. Postamos aquilo que queremos ser (e muitas vezes
não somos). A verdade nem sempre é mostrada. Poses e mais poses, filtros e mais
filtros para se chegar na foto perfeita. Quantas são as vezes que em busca de
aprovação de outras pessoas, pintamos um quadro totalmente disforme da
realidade. Nem sempre é o que parece, por vezes as pessoas estão prestes a cair
num precipício, mas querem que todos pensem o contrário. A busca doentia por “likes” transforma fulanos e fulanas em
reféns de suas próprias mentiras.
A postagem dos outros se torna uma provocação e é preciso se mostrar
melhor. Mudar a aparência não é mais suficiente, é preciso fingir outra vida.
Na verdade, há casos em que a diferença de imagem entre a pessoa real e
a pessoa mostrada na tela do computador é tão grande, que, na grande parte das
vezes, é algo inacreditável. São figuras distintas, quase que irreconhecíveis
quando colocadas lado a lado. A sociedade se reconfigura quando se projeta uma
imagem vitoriosa. Há uma aceitação maior. Há uma glorificação da figura do ser
bonito, rico e perfeito e não se enquadrar nisso é dolorido para pessoas (em
sua maioria) com a autoestima abalada demais ou elevada demais. Umas de um
lado, outras de outro. Paradoxos difíceis de compreender. Um sonho de consumo
que faz muitos se sentir inseguros e tristes. Um sonho de consumo que faz
muitos se mostrar alegres e bem-sucedidos. Um sonho de ser além do que as
outras pessoas comuns aparentemente são.
Os perfis são tão perfeitos, as pessoas tão alegres, as fotos tão
bonitas, as comidas tão gostosas, as selfies
mais incríveis, as festas mais chiques, os amigos tão sorridentes, as
famílias tão impecáveis, empregos poderosos, romances maravilhosos, viagens
inesquecíveis, as roupas mais caras: A melhor vida possível! Depois desse
prazer dos diversos likes, essas
ações viciam e tendem a se repetir.
Quando tudo isso é verdadeiro e realmente vivemos e temos essa vida, é
bom demais expor as conquistas.
Ostentar sucesso e trabalhar o marketing pessoal, pode fazer parte,
saudavelmente, do dia a dia do vaidoso. Quando é sem muitos exageros, melhor
ainda. O perigo é quando muita parte do que é exibido não é real, é montado,
disfarçado, é fake. Existe o risco de
ser descoberto e o castelo cair, o prazer pode virar dor, a luxúria pode virar
amargura, aplausos viram vaias, beleza vira vergonha e sorrisos viram choro.
É complicado pensar que atualmente os níveis de felicidade, realização e
sucesso das pessoas são calculados pelo número de likes e coraçõezinhos em seu perfil. Cliques esses, muitas vezes feitos por pessoas que nem se conhecem.
Fica mais difícil saber que isso também nos atinge. Essa falsa
prosperidade que muitas vezes encontramos na vida dos outros, nós tentamos
concretizar na vida da gente também e nem sempre conseguimos.
A vida não nos cobra perfeição, mas a sociedade sim, os amigos sim, a
família sim e com isso projetamos uma imagem de vencedor para agradar. Esse
limite entre o real e o virtual, nos traz para uma reflexão sobre o que fazemos
e o quanto ficamos invejosos sobre o que os outros fazem melhor do que nós. É
como se a felicidade interior só tivesse alguma serventia se as outras pessoas
vissem e curtissem. Como se a felicidade alheia fosse algo para incitar inveja.
Muitas vezes a gente se sente assim, insuficiente. Sentimos inveja.
Sentimos que não chegamos lá. Mas não queremos assumir e não pretendemos nos
esconder. Mas, se você precisa mudar seu jeito e esconder suas verdades para
caber no mundo, saiba que jamais nada disso o deixará mais feliz, nem mais
aceito, nem mais bonito ou bem-sucedido.
Quando você se mostra grande em cima de algo que você não construiu, a
queda é certa e sua pequenez será exposta algum dia. Não existe quem não
precise de melhorias, sempre deve haver uma inspiração que nos guie aos
acertos, mas é preciso repelir os erros, é preciso aceitar quem somos.
Se a gente tiver um coração do bem, ele se abre e cria espaço para
receber energia positiva e somente um coração cheio de alegria e verdades pode
fazer uma alma repleta de felicidade.
A alma é que deve se mostrar feliz e não aquela foto maquiada da rede social.
Só por isso já vale a pena a gente lutar para se mostrar como é. Não deixe que
as vaidades o impeçam de andar somente pelos caminhos da verdade. Somente a
verdade deve ser mostrada, mesmo que ela não o enobreça, mesmo que ela não o
cresça, mesmo que ela não o coloque em palanques e palcos, não lhe traga
prêmios e palmas. Mas entenda que só ela importa. Só ela é nobre. Só ela
interessa.
A imagem verdadeira é a única coisa que a gente deve ter de melhor e
mais belo a se mostrar.
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