André
J. Gomes
Eu sou dessa gente que adora bichos de estimação. Desde criança, não me
lembro de uma só fase da vida em que não houvesse por perto um cachorro, um
gato, uma família de coelhos, galinhas, duas tartarugas, peixes, passarinhos e afins.
Hoje na minha casa somos apenas três: meu filho João, nosso cachorro Bob
e eu. Três bichos que se amam, se precisam e se sustentam.
Conheço gente que declara não suportar os bichos e acha um exagero o
amor de certas pessoas a seus companheiros de pelos, penas, escamas ou seja lá
o que for. Quando alguém assim me pergunta o que faz o nosso cachorro, se
brinca, se pula, se late muito, se urina na sala ou se estraga os pés das
cadeiras, eu adoraria responder: “ele
recita poesia, limpa a casa, cozinha, lava a louça, vê a novela das nove, tira
o lixo e canta no karaokê.”
E quando a pessoa fizesse uma cara de espanto eu completaria:
“Mas é um péssimo cantor,
desafina muito.”
Só não respondo assim porque isso levaria a nossa conversa a um lugar
estranho em que eu não quero estar. Então me contento com outra resposta mais
simples e direta: nosso cachorro faz de mim e do meu filho pessoas melhores.
Não é exagero, não. Cuidar do nosso amigo refina a nossa humanidade e
nos põe atentos, a postos, responsáveis. Faz de nós doadores e beneficiários de
um amor bonito, imenso, divertido, trabalhador. E põe trabalho nisso.
Cá entre nós, pensando humanidade como sinônimo de compaixão,
benevolência, sensibilidade, compreensão, caridade e essas coisas, os bichos
são mais humanos do que muita gente que anda por aí.
Acho aqui comigo que olhá-los de perto, observar seu comportamento, seus
hábitos, seu jeito e cuidá-los com calma, empenho e amor há de fazer de nós
pessoas melhores. Há, sim.
Quem faz maldade aos bichinhos, quem os maltrata ou escraviza e quem os
abandona à própria sorte habitam o nível mais baixo da espécie humana. São
criaturas rasteiras, tacanhas, medonhas. Animais sem escrúpulos, sem empatia,
sem consciência. Tão estúpidos e irracionais quanto qualquer predador ou
criminoso.
Penso tudo isso durante um passeio com o nosso cachorro, eu já cansado,
querendo voltar para casa, e ele puxando a coleira como quem quer bater perna
para sempre.
Tenho então uma impressão ligeira feito uma bolinha colorida quicando aqui
dentro: nosso amado cachorrinho é uma pessoa muito, mas muito melhor do que eu.
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