Fabíola Simões
Que a gente não desista de tentar, arriscar, desejar. E que permaneça
acreditando na ternura, mesmo quando tudo vai por água abaixo.
Tenho o costume de escrever cartas para Deus. Como
tudo em minha vida termina em um bloquinho de papel e uma caneta, esta é a
forma mais fácil de entrar em contato com o sagrado que há em mim.
Esse hábito vem de um tempo distante, em que era comum
viver dando cabeçadas e acreditar que jamais “daria certo” ao lado de alguém. Eu sofria a perda de um grande
amor, e não conseguia imaginar outra pessoa (realmente boa) para ocupar esse
lugar no meu coração. Então resolvi jogar o problema para Deus. Escrevi uma
carta longa, em que eu descrevia, tim tim por tim tim, como deveria ser esse
alguém. Parecia exigência demais, mas eu queria ser bem específica no querer.
Passado algum tempo (não me lembro quanto), conheci meu futuro marido. De
imediato não me lembrei da carta, mas um dia encontrei-a no fundo de uma caixa,
e qual não foi minha surpresa ao perceber que aquele homem correspondia
fielmente à descrição que eu pedira a Deus?
Tudo isso tem ares de literatura tipo “O Segredo”, e não gosto de pensar
assim. Porém, acredito que nossa realidade mental é muito mais ampla do que
podemos imaginar, e pode sim direcionar nossa realidade externa em maior ou
menor grau.
A gente tem que ter cuidado com o que deseja. Porque
bem lá no fundo de cada um, uma luz se acende com nosso querer, e faz de tudo
para não se apagar enquanto a gente não realizar o que anseia, mesmo que
inconscientemente.
Você sabe realmente o que está desejando? Tem sido
responsável com seus pensamentos e desejos? Sabe em que medida a vida concorda
com seus mais secretos sonhos?
Muitas vezes o medo ceifa a concretização de nosso
desejo. Então mesmo querendo muito alguma coisa, nosso medo boicota nosso
destino, e assim nada se concretiza. Quantas vezes ouvi histórias de mulheres
tentando engravidar, que só conseguiram depois que adotaram? Talvez o medo de
tentar e não conseguir acabe sabotando a concretização dos planos. Mas a partir
do momento que adota (e, portanto não fracassa), relaxa com o medo e consegue.
Do mesmo modo, boicotamos nossos planos de encontrar
alguém para partilhar a vida, mudar de emprego, abrir um negócio próprio, ter
um segundo filho, se dedicar pra valer a um sonho, viajar pra um lugar
distante, aprender a dançar, largar o namorado, assumir uma nova identidade, ir
para a terapia, praticar algum esporte. Tudo são desejos, mas no fundo queremos
realmente que se concretizem? Será que desejamos o bastante?
Que nosso desejo não seja diminuído por nossos medos,
e que nossa capacidade de sonhar não se perca nos vapores do tempo.
Que a gente siga acreditando que pode melhorar nossa
realidade a partir de nossos próprios pensamentos, e que nunca nos falte a
capacidade de sorrir, aceitar os colos e abraços, e recomeçar de um jeito novo,
sem a companhia da desesperança.
Que a gente não desista de tentar, arriscar, desejar.
E que permaneça acreditando na ternura e alegria, mesmo quando tudo é só
ventania.
E que não nos falte coragem, pois desejar o que se
quer e saber o que devemos atrair não é tão simples como deveria ser.
Que haja sabedoria e humildade. Alegria e coragem. E
que não nos falte ânimo para superar os desejos frustrados e as mudanças de
rota, partes do processo lindo que é simplesmente viver…
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