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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Não há solução mágica para a Educação


*Priscila Cruz


A crise de aprendizagem na Educação Básica é a pior de nossas múltiplas crises. É uma crise silenciosa mas que tem limitado o crescimento do País e contribuído enormemente para a desigualdade na distribuição de renda e no acesso a oportunidades. Os países que hoje têm os melhores indicadores econômicos e sociais devem muito de seu sucesso a governantes com visão de longo prazo que fizeram da educação básica a prioridade de seus governos.

Essa crise não é a mesma em todo o Brasil. No Ensino Médio, por exemplo, apesar das médias nacionais serem ainda muito baixas – apenas 7% dos jovens chegam ao final dessa etapa sabendo calcular uma equação matemática simples – há redes de ensino com fortes avanços em meio a outras em franco retrocesso. Para cada Ceará que avança, temos um Rio de Janeiro que despenca. Os ótimos resultados de Goiás, Espírito Santo e Pernambuco são anulados, na média nacional, pelas oscilações que mantém estados como Amapá, Bahia e Pará em baixíssimos patamares.

Para expandirmos as experiências de êxito para o País todo, há de se reconhecer algumas premissas. Primeiro, agir para reduzir a desigualdade educacional não é promover o coitadismo. Direcionar mais apoio e recursos financeiros para as populações em desvantagem é um imperativo programático e ético. É pré-condição para uma sociedade que caminha junta, uns apoiando os demais. Nunca é demais sublinhar que igualdade no acesso às oportunidades é pré-condição de um sistema verdadeiramente liberal e meritocrático.

Segundo, devemos nos livrar das ideologias e das soluções mágicas. Não é promovendo a pauta ideológica do Escola Sem Partido ou a pouco eficiente escola militar que vamos resolver o problema da educação no Brasil.

A verdadeira solução, já testada nas nossas experiências de êxito e nos países com melhor educação do que a nossa, passa por outros caminhos: atendimento à primeira infância com a articulação de educação, saúde, assistência, cultura e esporte; políticas docentes de atração, formação inicial e continuada, carreira e condições de trabalho; aprimoramento da governança do sistema federativo e da gestão das redes e escolas; sistema de financiamento da educação pública mais redistributivo e com indução para boas práticas de gestão; novo ensino médio com variedade de itinerários formativos, incluindo a expansão da educação profissional e da educação integral em tempo integral; política articulada com estados e municípios para universalizar a alfabetização até o 2o ano do Ensino Fundamental; implementação da Base Nacional Curricular Comum em todas as escolas e salas de aula.

Os Estados e Municípios que levam a sério a gestão educacional estão focados nas sete medidas acima. Nenhum deles expurgando as teses de Paulo Freire ou perseguindo professores. Ao contrário, as experiências de sucesso mostram que professores e alunos precisam ser aliados e, portanto, promovem seu engajamento na condução das políticas públicas educacionais. Essa é a lição do Espírito Santo, um dos estados com maior avanço no Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – do País. Lá os gestores educacionais souberam aliar a implementação das políticas com forte envolvimento dos próprios estudantes, professores e famílias. A condução importa e faz muita diferença.

Melhor gestão educacional significa atuar em 3 frentes: melhor alocação dos recursos, melhor implementação das políticas e combate aos desperdícios e desvios. As escolas militares são um bom exemplo de alocação ineficiente. Elas até são demanda de uma parte da população e podem parecer um bom modelo de escola, mas não passam no teste. Conforme matéria da jornalista Renata Cafardo publicada por este jornal, o investimento por aluno é três vezes maior do que na escola regular de turno parcial, faz seleção de alunos e atende uma parcela com nível socioeconômico mais alto. Por outro lado, temos a experiência das escolas de educação integral em tempo integral cujo modelo começou em Pernambuco e já está em 17 Estados. Nesse modelo, não há seleção de alunos, eles ficam na escola de 7 a 9 horas por dia, o custo por aluno é 30% maior do que na escola regular de 4 horas diárias e são as escolas com os melhores resultados no Ensino Médio brasileiro.

Outro exemplo de melhor alocação é a priorização da Educação Básica no orçamento federal. É preciso ter a coragem para abrir a discussão sobre cobrança de mensalidade e serviços no Ensino Superior público para que mais recursos possam ser direcionados à Educação Básica, em especial para as escolas que atendem a população mais pobre. A lógica deveria ser: quem pode pagar ajuda a formação básica dos que mais precisam.

Por fim, quando falamos em aprendizagem, não estamos só falando em Língua Portuguesa, Ciências e Matemática. Ao lado de universalizar a aprendizagem nesses campos do conhecimento, também faz parte da formação escolar o preparo para a vida, a cidadania e o mundo do trabalho e a consolidação de competências essenciais em um ambiente cada vez mais diverso, complexo e desafiador que essas crianças e jovens já vivem. Assegurar um ambiente escolar acolhedor, respeitoso com as múltiplas diversidades e que seja de confiança para que cada aluno, professor e profissional da Educação se sinta protegido para expressar suas opiniões, projetos de vida, aspirações, ideias e ideais, é aspecto fundamental para a formação para o século 21, para a convivência democrática e para uma vida produtiva.

A responsabilidade do presidente da república na condução das políticas educacionais é imensa. É preciso escolher as boas batalhas, e não as soluções mágicas ou simplistas. É o que o Brasil quer e mais precisa.

* Co-fundadora e Presidente-Executiva do Todos Pela Educação

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