Por Sílvia Marques
É, não tem muito jeito não.
Como disse Coco Chanel “Para ser insubstituível, você precisa ser diferente”.
Não adianta desejar a admiração alheia, não adianta desejar atenção, aplausos,
olhares hipnotizados, se fazemos tudo do mesmo jeito que todo mundo faz, rindo
das mesmas piadas toscas, nos estressando por causa das mínimas imperfeições
físicas, compreendendo a vida da mesma maneira obtusa que a maioria entende.
Quer dizer, não entendendo e achando que entende com ares de bedel.
Não adianta desejar com todas
as forças do nosso ser uma vida significativa, expressiva, cheia de purpurina e
bolhas de champanhe estourando no céu da boca, no coração da alma, se a gente
não se dispõe a correr riscos, se a gente não se dispõe a ser julgado.
Ser protagonista da própria
vida exige um preço bem salgado e apenas os destemidos e puros de alma têm
coragem de se atirar do alto de penhascos sem a certeza absoluta de que o
paraquedas vai abrir mesmo. Só os destemidos e puros de coração podem olhar nos
olhos do outro e mostrar quem é ou quem imagina ser.
Ser protagonista da própria
vida é para os fortes, para os sinceros, para aqueles que fugiram do catecismo
da sociedade, que engloba mandamentos como ” Não seja você mesmo”, “Sorria
docemente quando alguém for cruel com você”, “Se vista como todo mundo”,
“Defina seu caráter por suas roupas e não por suas atitudes”, “Se apaixone
apenas por pessoas convenientes”, “Tome café e converse apenas com pessoas do
seu nível social”, “Crucifique quem é diferente pois cria muito ruído e a gente
gosta do tédio do silêncio”, “Que todas as crenças e estilos de vida sejam
pintados de nude pois é mais discreto e está na moda”.
Ninguém sobressai, ninguém
brilha se não tiver a coragem de ultrapassar os limites da mesmice, do senso
comum, da tacanhez cotidiana que só enxerga o óbvio saltitando à sua frente.
Regina
Duarte na pele da destemida e visceral Chiquinha Gonzaga. Uma mulher que fez da
vida a sua mais melódica composição.
Salma
Hayek na pele de Frida Kahlo que ultrapassou os limites da própria dor para
fazer uma arte e viver uma vida pungentes.
Coco
Chanel transformou uma vida atribulada e sem oportunidades em uma referência de
elegância e liberdade
Sim, não tem muito jeito mesmo.
Ninguém faz moda usando a roupinha que todo mundo usa. Ninguém vira referência
de nada preocupado o tempo todo com aquilo que os outros vão pensar. Ninguém se
torna livre, esperando que alguém conceda o seu habeas corpus para viver a vida
como bem entende. Ninguém vive o amor morrendo de medo das emoções e fugindo
dos riscos. Ninguém se destaca sendo mais um.
Sim, não tem muito jeito não.
Ser diferente e pensar com a própria cabeça e sentir com o próprio coração
esfola a pele da alma, nos desnuda em público, nos expõe ao julgamento dos
tacanhos, nos fecha portas sociais. Mas como se costuma dizer, tudo ou quase
tudo que vale a pena vem com dedicação e uma dose cavalar de sofrimento.
Sobre a Autora:
Sílvia Marques
Viciada
em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.
Escritora compulsiva, atriz por vício, professora com alma de estudante. O
mundo é o meu palco e minha sala de aula, meu laboratório maluco. Degusto novos
conhecimentos e degluto vinhos que me deixam insuportavelmente lúcida.
Apaixonada por artes em geral, filosofia, psicanálise e tudo que faz a pele da
alma se rasgar. Doutora em Comunicação e Semiótica e autora de 7 livros. Entre
eles estão "Como fazer uma tese?" (Editora Avercamp), "O cinema
da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da
Educação" (Editora LTC) indicado ao prêmio Jabuti 2013. Sou alguém que
realmente odeia móveis fixos.
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