Erick Morais
Saramago costumava dizer que o destino tem que dar muitos rodeios antes
de chegar a qualquer parte. Ou seja, a vida tem seus próprios caminhos, coisas
que não controlamos, suas ironias, suas voltas, de modo que sempre haverá o
inesperado e dificuldades para enfrentar. Sempre haverá desilusões, quedas e
ultrapassagens. No entanto, ainda que os momentos de crise sejam horríveis,
eles podem significar um despertar, pois como diz Sean (Robin Williams) no
filme Gênio Indomável: “As crises nos acordam para as coisas boas
que não percebemos”.
Não há como escapar, todos nós um dia passaremos por um momento que
colocará o nosso emocional no chão, a mente perturbada, cercados de desilusão e
desespero. Não há como escapar porque “A vida não te dá traves de proteção”
e a dor e o sofrimento são inerentes à vida, assim como o amor e a alegria.
Embora não haja como escapar, no meio da dor parece que percebemos quem
somos de fato e o que queremos da vida. Sem pressões externas, sem a sociedade,
é apenas o eu e o mim dialogando e, assim, conseguimos enxergar sem máscaras a
constituição do nosso ser e o que ele grita desesperadamente para fazermos. Por
isso, as crises nos acordam para o que não percebemos, porque elas nos acordam
da vida, muitas vezes, no controle remoto, fazendo-nos enxergar aquilo que na
trivialidade do cotidiano deixamos passar, enquanto fingimos estar tudo bem.
Como disse, ninguém quer sofrer e não acredito que fomos feitos para
isso. Todavia, nos momentos de tensão surgem coisas maravilhosas, a meu ver, porque
nesses momentos permitimos estar mais próximos do que realmente somos. Dessa
maneira, as crises podem nos levar a um processo de autoconhecimento e, por
conseguinte, de maior felicidade, já que ninguém é verdadeiramente feliz sendo
um forasteiro de si próprio.
As crises nos mostram que podemos mudar, que não devemos nos acostumar,
que há sempre algo a fazer com o que a vida fez conosco. Da mesma forma que nos
faz perceber o que realmente nos faz feliz, nos mostra que devemos valorizar as
pessoas que em momento algum largam a nossa mão, e faz com que o nosso olhar
possua mais doçura para enxergar as belezas que explodem aos nossos olhos, mas
não somos capazes de perceber.
Rubem Alves certa feita disse que foram as desilusões que o levaram a
ultrapassagens, isto é, sem as desilusões que sofrera, ele jamais seria o Rubem
que conhecemos. Concordo plenamente com ele, pois sei que sem as minhas crises,
eu jamais seria quem sou hoje. Sei também o quão doloroso é esse processo, mas
sei que de muitas dores vem a alegria, como a mulher que senti a dor do parto,
mas se regozija com a beleza da vida. As nossas crises são como um parto. É
necessário enfrentá-las se quisermos renascer, já que lembrando mais uma vez
Rubem Alves: “Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas
metamorfoses”.
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