Fabíola
Simões
Uma vez li uma
antiga bênção mexicana que dizia assim: “Eu
liberto meus pais do sentimento de que já falharam comigo”; e pensei nas
inúmeras vezes que julguei as pequenas “faltas” de minha mãe, mesmo quando o
erro não era dela.
Por ter necessidade de achar
um bode expiatório para minhas dificuldades, traumas e aflições, o caminho mais
simples e seguro sempre foi acusar a pessoa que mais fácil me perdoaria: minha
mãe.
Hoje quero libertar minha mãe
do sentimento de que já falhou comigo. Quero que ela saiba que mesmo que eu
discorde de algumas atitudes tomadas no passado, sei que ela fez o que julgou
que seria melhor para mim no momento. Que ela se sinta leve, sem
arrependimentos ou culpas, e que perceba o quanto serviu de pilar e exemplo
para nossa casa. Quero que minha mãe entenda que, se ouviu inúmeras vezes que a
culpa era dela, mesmo quando fazia de tudo para o barco não afundar, foi porque
a imaginávamos forte e doce demais para falhar. Desejo que saiba o quanto sou
grata e o quanto compreendo os caminhos, algumas vezes tortos, que trilhou para
que fôssemos felizes.
Há uma frase do
Padre Fábio de Mello que diz mais ou menos assim:
Diga-me quem você mais perdoou na vida, e eu então saberei dizer quem
você mais amou.
Não concordo inteiramente com
essa frase, quando se trata de relacionamentos amorosos, pois há muita confusão
por aí. Porém, em se tratando de coração de mãe, essa frase ganha sentido e
autenticidade. Pois, de uma forma geral, aprendemos desde cedo que é ali,
naquele colo de cheiro conhecido, que encontramos abrigo, afeição e, de uma
maneira que não podemos imaginar, perdão.
Mãe falha
tentando fazer o melhor. Falha pela ausência, tentando passar um exemplo de
independência. Falha pela presença, tentando ser apoio e companhia. Falha privando
e frustrando; falha mimando e cuidando. Falha virando uma leoa em defesa de
seus filhotes; falha tentando ser sensata e imparcial. Falha fazendo drama;
falha acobertando os erros.
Mãe falha sofrendo no lugar da
gente; falha ignorando os sinais. Falha suportando tudo; falha rodando a baiana
e colocando os pingos nos is. Porém, o que mãe não faz, é desistir. Mesmo
falhando, ela está ali, tentando. Mesmo errando, estará sempre nos abençoando.
Mãe jamais cruza os braços.
Mesmo que finja ignorar, no fundo de sua alma ela ora a Deus por nossos
caminhos. Mesmo saindo de perto, ela não nos abandona. Mesmo não concordando
conosco, ela continuará leal a quem somos de fato. Pois só ela nos conhece de
verdade, sem as máscaras que adquirimos com o tempo. Só ela conhece nossos
medos mais primitivos, e pode explicar a origem daquela angústia ou
dificuldade.
Crescemos, adquirimos novos
hábitos e costumes, e percebemos que nem tudo foi perfeito na casa onde
nascemos. Ficamos críticos, passamos a discordar da educação que tivemos e
tentamos agir de outro modo com nossos filhos. Porém, também passamos a repetir
aquilo que foi bom. Sem querer, nós nos flagramos repetindo falas e trejeitos
de nossos pais, repetindo brincadeiras, receitas e passeios, tentando eternizar
tradições.
Hoje peço a Deus
que me ajude a perpetuar o grande amor de minha mãe por seus filhos. Que, ao
entrar em casa, eu esqueça o peso do meu dia e possa ser leve e presente na
companhia de meu filho.
Que eu possa
inspirá-lo a ser bom, forte e paciente, mas acima de tudo, que ele entenda meu
desejo de que seja mais amoroso consigo mesmo.
Que eu nunca deixe de dobrar
meus joelhos e pedir proteção a ele, entendendo que só Deus pode ir aos lugares
que eu não alcanço. Que eu consiga acertar mais que errar, mas que ele perdoe
minhas falhas e faltas, entendendo que fui aprendiz também, e sempre desejei o
seu bem.
Que minha própria mãe se faça
presente em alguns de meus pensamentos e gestos, me ajudando a repetir e
aperfeiçoar o amor. E que, ao entregar meu filho para o mundo, eu possa confiar
no tempo que passamos juntos e acreditar, com satisfação, que ele estará seguro
e em paz.
Mas, um dia, ao
ver meu filho voltar, espero enxergar em seus olhos o brilho de quem encontrou
seu caminho, ou pelo menos está tentando. Pois no fundo o que as mães querem é
uma coisa só: que seus filhos sejam felizes…
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