Por
Helena Oliveira
“Cem Anos de Solidão” e “O Amor nos tempos do Cólera” são alguns
dos livros de Gabriel García Márquez que inspiraram gerações. No entanto, o
autor também tinha suas referências literárias que, de acordo com ele, ajudaram
o moldar sua mente e seu destino criativo. Os livros foram revelados em sua
biografia “Viver para Contar”. A Revista
Bula reuniu todos eles em uma lista. Alguns destaques são: “Enquanto Agonizo” (1930), de William Faulkner; “Orlando: Uma Biografia” (1928), de
Virginia Woolf; “A Cabana do Pai Tomás”
(1852), de Harriet Beecher Stowe; e “O
Homem da Máscara de Ferro” (1847-1850), de Alexandre Dumas. Os comentários
são adaptados das sinopses das editoras.
1 — A Montanha Mágica (1924),
Thomas Mann
O jovem engenheiro Hans Castorp, durante uma inesperada estadia em um
sanatório para tuberculosos, relaciona-se com uma miríade de personagens
enfermos que encarnam os conflitos espirituais e ideológicos que antecedem a
Primeira Guerra Mundial. Além de um clássico alemão, o livro é um dos grandes
testamentos literários do século 20 e uma das obras seminais da ficção
ocidental.
2 — O Homem da Máscara de
Ferro (1847-1850), Alexandre Dumas
A França estava sob o reinado de Luís XIV, um monarca vaidoso e
autoritário. Aramis, ex-mosqueteiro do rei Luís XIII, pretendia livrar o país
da tirania do herdeiro do trono. Ajudado por seu amigo Porthos, ele planejou a
substituição de Luís XIV por Filipe, seu irmão gêmeo. No entanto, Fouquet,
súdito leal ao rei, e D’Artagnan, capitão dos mosqueteiros, tentarão destruir
esses planos.
3 — Ulisses (1922), James
Joyce
Um homem sai de casa pela manhã, cumpre com as tarefas do dia e, pela
noite, retorna ao lar. Foi em torno desse esqueleto enganosamente simples,
quase banal, que James Joyce elaborou o que veio a ser o grande romance do
século 20. Inspirado na “Odisseia”, de Homero, “Ulysses” é ambientado em
Dublin, e narra as aventuras de Leopold Bloom e seu amigo Stephen Dedalus ao
longo do dia 16 de junho de 1904.
4 — O Som e a Fúria (1929),
William Faulkner
No livro, William Faulkner investiu num estilo ousado, tecido por quatro
vozes narrativas distintas e saltos inesperados no tempo. É dessa forma,
permeada por tons bíblicos e ecos de tragédias gregas, que o escritor retrata a
violenta decadência dos Compson, família aristocrática do sul dos Estados
Unidos, que parece viver num desnorteante presente em estado bruto.
5 — Enquanto Agonizo (1930),
William Faulkner
Neste romance, o autor distancia-se da aristocracia sulista americana
para falar de gente comum e humilde, como a família Bundren, que se reúne para
cumprir o último desejo da matriarca: ser enterrada em Jefferson, ao lado de
seus parentes. O marido e os cinco filhos partem com o caixão determinados a
cumprir seu objetivo. O livro foi eleito um dos cem melhores romances em inglês
do século 20 pela editora Modern Library.
6 — Palmeiras Selvagens
(1939), William Faulkner
Este livro narra duas histórias que, na aparência, são totalmente
distintas. A primeira, que dá título ao livro, conta a paixão tumultuada e, no
limite, impossível de Charlotte e Harry. A segunda, “O Velho”, narra a
sobrevivência de um condenado que sai da prisão para salvar as vítimas de uma
das maiores enchentes do Mississipi, nos Estados Unidos. As duas narrativas são
apresentadas em capítulos alternados por Faulkner.
7 — Édipo Rei (427 a.C.),
Sófocles
Sófocles (495 a.C. — 406 a.C.) nasceu e morreu em Atenas, na Grécia, e
foi um dos maiores intelectuais da antiguidade clássica. Autor consagrado em
seu tempo, produziu cerca de 120 peças das quais restaram conservadas apenas
sete, entre as quais, Antígona, Ajax, Electra e Édipo Rei, talvez a mais
célebre de todas as tragédias. Atormentado pela profecia de um oráculo, de que
iria matar o pai e desposar a mãe, Édipo tenta, inutilmente, fugir de seu
destino.
8 — A Casa das Sete Torres
(1851), Nathaniel Hawthorne
Em uma cidade americana nas proximidades de Boston, um casarão de
madeira de sete torres é símbolo de uma sucessão de tragédias que marcam a
decadência da família Pyncheon. São justamente essas tragédias, motivadas por
ganância, traição e arrogância, que Nathaniel Hawthorne explora no livro,
descrevendo como o mal pode ser um problema hereditário.
9 — A Cabana do Pai Tomás
(1852), Harriet Beecher Stowe
Tido por muitos como um dos estopins da Guerra Civil Americana, que
culminou com a derrota do Sul escravocrata e a abolição legal do cativeiro de
africanos e descendentes em todo o território dos Estados Unidos, “A Cabana do
Pai Tomás” tornou-se um testemunho fundamental dos horrores da escravidão. A
obra, narra o drama do velho Tomás, escravo humilde e religioso, cuja vida em
cativeiro muda drasticamente depois de súbitas trocas de dono.
10 — Moby Dick (1851), Herman
Melville
A clássica obra de Herman Melville é centrada em Ismael, que realiza o
sonho de conhecer a rotina de um navio baleeiro. No entanto, o que ele não
sabia é que o capitão da embarcação, Ahab, tinha apenas um objetivo: matar Moby
Dick, uma gigante baleia branca com a qual se encontrou tragicamente no
passado. O homem, então, embarca em uma perigosa aventura em alto-mar e
acompanha a jornada do capitão.
11 — Filhos e Amantes (1913),
D. H. Lawrence
O livro é centrado na família Morel, que vive na região carbonífera de
Nottingham, na Inglaterra. Desiludida com o marido, um mineiro rude e bêbedo, a
senhora Morel concentra todas as suas esperanças nos filhos, sobretudo em Paul.
À medida que Paul cresce, entretanto, emergem muitas tensões alimentadas pelo
amor que divide entre duas mulheres. Lawrence recorre à sua própria experiência
para explorar os complexos laços emocionais que marcaram a obra.
12 — As Mil e uma Noites (Séc.
8 ao 18), vários autores
“As Mil e uma Noites” é uma coletânea de histórias inventadas e preservadas
na tradição oral pelos povos da Pérsia e da Índia. As narrativas, entre as
quais estão as famosas viagens de Simbad, o marujo, as aventuras de Aladim e a
lâmpada maravilhosa e a mirabolante história de Ali Babá e os quarenta ladrões,
são contadas por Sherazade, uma jovem corajosa que se sacrifica pelo seu povo
para salvá-lo da ira do sultão Shariar.
13 — A Metamorfose (1915),
Franz Kafka
A metamorfose é a mais célebre novela de Franz Kafka e uma das mais
importantes de toda a história da literatura. O texto coloca o leitor diante de
um caixeiro-viajante, Gregor Samsa, transformado em inseto monstruoso. A partir
daí a história é narrada com um realismo inesperado que associa o inverossímil
e o senso de humor ao que é trágico, grotesco e cruel na condição humana.
14 — O Aleph (1949), Jorge
Luis Borges
O livro, considerado pela crítica um dos mais importantes do autor,
reúne 17 contos. Um deles é “Aleph”, que dá nome à obra. A história fantástica
é centrada em um sótão de uma casa argentina, de onde é possível assistir todo
o universo. Em cada história, Borges exerce seu modo característico de
manipular a realidade: as coisas da vida real deslizam para contextos incomuns
e ganham significados extraordinários, ao mesmo tempo em que fenômenos bizarros
se introduzem em cenários prosaicos.
15 — Contos (1995), Ernest
Hemingway
Composto por 28 contos, a obra reúne fortes e densas narrativas, cheias
de aventura, violência, brutalidade, realismo e nostalgia, com trechos
emocionantes, nascidos da imaginação e da experiência de um homem que viveu
intensamente o seu tempo. Hemingway, um dos escritores mais importantes do
último século, narra algumas de suas histórias íntimas, como as de Nick Adams,
nos Estados Unidos, na Europa e no Oriente Médio, e suas recordações do exílio.
16 — Contraponto (1930),
Aldous Huxley
“Contraponto” é um retrato da sociedade decadente, que passa a
forçadamente rever seus valores quando a aristocracia e o dinheiro “antigo” já
não mais sustentam a imagem de uma sociedade ideal. Publicado em 1930, o livro
é considerado um dos 100 melhores romances do século 20 pela Modern Library, e
uma das obras-primas de Aldous Huxley.
17 — Ratos e Homens (1937),
John Steinbeck
George e Lennie são dois amigos muito diferentes entre si. George é
baixo e franzino, porém astuto, e Lennie é grandalhão, uma verdadeira fortaleza
humana, mas com a inteligência de uma criança. Só o que os une é a amizade e a
posição de marginalizados pelo sistema, o fato de serem homens sem nada na
vida, sequer família, que trabalham fazendo bicos em fazendas da Califórnia
durante a recessão econômica americana da década de 1930.
18 — As Vinhas da Ira (1939),
John Steinbeck
O livro conta a história da família Joad, que abandona as terras onde
vivia há gerações, no estado de Oklahoma, nos Estados Unidos, por causa de uma
grande seca. O grupo vagueia pelas estradas num velho caminhão, em busca de
emprego, comida e sonhos, mas só encontra tragédias. Ao mesmo tempo que
denuncia os dramas um país debilitado pela Grande Depressão de 1930, Steinbeck
mostra a felicidade do homem em contato com a natureza.
19 — A Estrada do Tabaco
(1932), Erskine Caldwell
Durante a Grande Depressão americana, a família Lester não sabe como
sobreviver à miséria que se avizinha aos territórios rurais da Geórgia, onde
cultiva tabaco e algodão. Debilitados pela pobreza ao ponto de atingirem um
estado de ignorância e egoísmo cruel, os Lesters preocupam-se com a fome, os
apetites sexuais que os devoram e o medo de que a hierarquia social os empurre
para uma camada ainda mais desfavorecida.
20 — Contos (1920-1974),
Katherine Mansfield
Autora de cerca de uma centena de contos, de diários e de uma vasta
correspondência, Mansfield teve uma vida breve e uma trajetória errática e
conturbada por crises sentimentais e relacionamentos inconfessáveis na
atmosfera vitoriana em que viveu 34 anos. Influenciada por Tchecov, admiradora
de Joyce e admirada por Virginia Woolf, a escritora neozelandesa inventou a sua
própria forma de conto. Detinha-se no instante e na intensidade dos pequenos
acontecimentos, sem explorar tramas romanescas.
21 — Manhattan Transfer
(1925), John Dos Passos
“Manhattan Transfer”, publicado pela primeira vez em 1925, é considerado
por muitos a obra mais importante de John Dos Passos. Por meio do livro, o
autor esboça um retrato fiel dos Estados Unidos, captando o verdadeiro espírito
da cidade de Nova York pelo olhar, bastante próximo do registo cinematográfico,
daqueles que a habitam.
22 — O Retrato de Jennie
(1940), Robert Nathan
“O Retrato de Jennie” é centrado em Eben Adams, um pintor fracassado. A
sua vida muda por completo quando ele conhece a bela Jennie. A jovem se torna
sua musa inspiradora e o faz atingir o sucesso. A relação entre os dois,
entretanto, não será apenas de musa e artista, e acabará desafiando as
fronteiras do tempo e da vida.
23 — Orlando: Uma Biografia (1928),
Virginia Woolf
Nascido no seio de uma família de boa posição na Inglaterra elisabetana,
Orlando acorda com um corpo feminino durante uma viagem à Turquia. A partir de
então, o personagem inicia uma longa jornada, por mais de três séculos. As suas
vivências ultrapassam as fronteiras físicas e emocionais entre os gêneros
masculino e feminino. Suas ambiguidades, temores, esperanças, reflexões são
expostos com inteligência e sensibilidade.
24 — Mrs Dalloway (1925), Virginia Woolf
O romance se passa em um único dia, em junho de 1923, quando Clarissa
Dalloway resolve comprar flores para a festa que vai oferecer. A partir desta
cena inicial, o romance segue a protagonista pelas ruas de Londres, registrando
suas ações, sensações e pensamentos. Em torno de Clarissa, gravitam vários
personagens: o marido Richard Dalloway, a filha Elizabeth, e um amigo de
juventude, Peter Walsh, com quem ela tem grande conexão afetiva.
Fonte: Revista Bula
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