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quinta-feira, 12 de abril de 2018

Case com aquilo que tem


Você não precisa estar seguro financeiramente para casar. Não existe mesmo estabilidade, ela é sempre provisória.

Sem dotes, sem poupança, case. Casar é improvisar. É somar os trocos. É se virar com o básico. É garantir o essencial. Duas pobrezas juntas formam decência.

Ninguém casa pelo futuro, mas pelo presente. O futuro é uma incógnita.

Se você casar somente quando tiver uma residência montada, está casando pela residência, não pela pessoa. Se você casar quando reunir sobrevida financeira, está casando pelo investimento, não pela pessoa. O contexto não é o amor, as circunstâncias não são o amor.

Nada melhor que começar com pouco e ir crescendo dentro da relação. Iniciar o enxoval com copos de requeijão, pratos de diferentes cores, comendo nos joelhos, dormindo com o colchão no chão, com a mobília doada pelos familiares, mas começar do jeito possível, assim aplaudirá cada pequena conquista.

Só quem parte do nada tem ideia do que é a felicidade da chegada de um armário embutido no quarto. Só quem parte do nada tem noção do que é um sofá novo.

É inspirador um casal que evolui lado a lado e forma patrimônio devagar, vangloriando-se dos preços de liquidação, aniversariando objetos, reconhecendo o valor de uma geladeira, parcelada em dez vezes, saudando a potência de um fogão, comprado com custo e sacrifício. O casal se fortalece dividindo os esforços e as sobras dos salários.

Não aguardar o momento idealizado, resistir na intimidade até que a bonança venha ou não venha.

Uma festa de casamento é linda, mas mais linda é a coragem de se unir pelas palavras.

A força de um lar não vem de herança e das maquetes, vem da força de vontade. Para quem sonha, as estrelas já são a bênção de um teto.

Resolver tudo antes não soluciona os enfrentamentos domésticos da convivência. Às vezes não possuir segurança favorece o surgimento de soluções criativas.

A longevidade do casal não depende da fartura, e sim do senso de humor para suportar as dívidas, os credores, as piores fases e da capacidade para encontrar esperança dentro das contas.

É necessário não confundir o que se é por aquilo que se tem, não misturar paz com posse.

Casar traz a mesma nudez do nascimento, pois se trata de um nascimento a dois.

Casar deve acontecer quando o amor está maduro, mesmo que você seja jovem, mesmo que você seja inexperiente, mesmo que você morra de medo.


Fabrício Carpinejar

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