Era uma vez um grupo de animais que quis fazer alguma coisa para
resolver os problemas do mundo.
Para isto, eles organizaram uma escola.
A escola dos bichos estabeleceu um currículo de matérias que incluía
correr, subir em árvores, em montanhas, nadar e voar.
Para facilitar as coisas, ficou decidido que todos os animais fariam
todas as matérias. O pato se deu muito bem em natação; até melhor que o
professor!
Mas quase não passou de ano na aula de voo, e estava indo muito mal na
corrida.
Por causa de suas deficiências, ele precisou deixar um pouco de lado a
natação e ter aulas extras de corrida.
Isto fez com que seus pés de pato ficassem muito doloridos, e o pato já
não era mais tão bom nadador como antes.
Mas estava passando de ano, e este aspecto de sua formação não estava
preocupando a ninguém – exceto, claro, ao pato.
O coelho era de longe o melhor corredor, no princípio, mas começou a ter
tremores nas pernas de tanto tentar aprender natação.
O esquilo era excelente em subida de árvore, mas enfrentava problemas
constantes na aula de voo, porque o professor insistia que ele precisava
decolar do solo, e não de cima de um galho alto.
Com tanto esforço, ele tinha cãibras constantes, e foi apenas
"regular" em alpinismo, e fraco em corrida.
A águia insistia em causar problemas, por mais que a punissem por
desrespeito à autoridade.
Nas provas de subida de árvore era invencível, mas insistia sempre em
chegar lá da sua maneira...
Na natação deixou muito a desejar... Cada criatura tem capacidades e
habilidades próprias, coisas que faz naturalmente bem.
Mas quando alguém o força a ocupar uma posição que não lhe serve, o
sentimento de frustração e até culpa, provoca mediocridade e derrota total.
Um esquilo é um esquilo; nada mais do que um esquilo.
Se insistirmos em afastá-lo daquilo que ele faz bem, ou seja, subir em
árvores, para que ele seja um bom nadador ou um bom corredor, o esquilo vai se
sentir um incapaz.
A águia faz uma bela figura no céu, mas é ridícula numa corrida a pé.
No chão, o coelho ganha sempre. A não ser, é claro, que a águia esteja
com fome!
O que dizemos das criaturas da floresta vale para qualquer pessoa.
Deus não nos fez iguais. Ele nunca quis que fôssemos iguais.
Foi Ele quem planejou e projetou as nossas diferenças, nossas capacidades
especiais.
Rubem Alves já dizia: “As
inteligências dormem, inúteis são todas as tentativas de acordá-las por meio da
força e das ameaças. As inteligências só entendem os argumentos do desejo. Elas
são ferramentas e brinquedos do desejo...”
Acho que a história acima descrita, ainda que com suas peculiaridades, é
a versão literária da teoria das Inteligências Múltiplas estudada por Gardner.
Sem pretensão de fazer aqui um estudo desta teoria o que estamos nos propondo é
fazer uma reflexão sobre a função da escola como instituição privilegiada de
construção de conhecimentos e saberes.
A escola ideal de Gardner baseia-se em algumas suposições:
• Nem todas as pessoas têm os mesmos interesses e habilidades, nem
aprendem da mesma maneira.
• Ninguém pode aprender tudo o que há para ser aprendido.
• A tarefa dos especialistas em avaliação seria a de tentar compreender
as capacidades e interesses dos alunos de uma escola.
• A tarefa do agente de currículo para o aluno seria a de ajudar a
combinar os perfis, objetivos e interesses dos alunos a determinados currículos
e determinados estilos de aprendizagem.
• A tarefa do agente da escola-comunidade seria a de encontrar situações
na comunidade determinadas pelas opções não disponíveis na escola, para as
crianças que apresentam perfis cognitivos incomuns.
Um novo conjunto de papéis para os educadores deveria ser construído
para transformar essas visões em realidade.
Todos os seres humanos normais possuem vários potenciais, mas por razões
genéticas e ambientais, os indivíduos diferem notavelmente nos perfis
particulares de inteligência que apresentam em qualquer momento dado de sua
vida.
Conseguimos "preencher" nossos numerosos papéis e posições
mais efetivamente porque as pessoas apresentam perfis de inteligências
diferentes. Já está estabelecido que os indivíduos possuem mentes muito
diferentes umas das outras. A educação deveria ser modelada de forma a
responder a essas diferenças, deveria se tentar garantir que cada pessoa
recebesse uma educação que maximizasse seu potencial intelectual, pois nenhum
indivíduo pode dominar completamente nem mesmo um único corpo de conhecimentos,
quanto mais toda a série de disciplinas e competências.
E novamente me aproprio das sábias palavras do educador Rubem Alves: "A tarefa do professor: mostrar a
frutinha. Comê-la diante dos olhos dos alunos. Provocar a fome. Erotizar os
olhos, fazê-los babar de desejo. Acordar a inteligência adormecida. Aí a cabeça
fica grávida: prenhe de ideias. E quando a cabeça engravida não há nada que
segure o corpo".
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