Papa: “Os cristãos devem buscar uma
participação mais ativa na sociedade como forma concreta de amor ao próximo,
que permita a construção de uma cultura fraterna baseada no direito e na
justiça”
Como já é tradição, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
abre oficialmente nesta quarta-feira de Cinzas, (06/03), a Campanha da
Fraternidade (CF). Neste ano de 2019 o tema é “Fraternidade e Políticas
Públicas” e o lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27).
Papa
Francisco em visita ao Brasil em 2013 para a JMJ
Nesta Campanha, que se desenvolve mais intensamente no período da
Quaresma, a Igreja Católica busca chamar a atenção dos cristãos para o tema das
políticas públicas, ações e programas desenvolvidos pelo Estado para garantir e
colocar em prática direitos que são previstos na Constituição Federal e em
outras leis.
Igreja quer
estimular a participação em políticas públicas
Nesta CF 2019, a Igreja no Brasil pretende estimular a participação dos
cristãos em políticas públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social
da Igreja para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais da fraternidade. O
texto-base da campanha descreve, entre outros tópicos, sobre o ciclo e etapas
de uma política pública e faz a distinção entre as políticas de governo e as
políticas de Estado, bem como apresenta os canais de participação social, como
os conselhos previstos na Constituição Federal de 1988.
Todos os anos, a CNBB apresenta a CF como caminho de conversão
quaresmal. É uma atividade ampla de evangelização que pretende ajudar os
cristãos e pessoas de boa vontade a vivenciarem a fraternidade em compromissos
concretos, provocando, ao mesmo tempo, a renovação da vida da Igreja e a
transformação da sociedade, a partir de temas específicos. Em 2019, a
Conferência convida todos a percorrer o caminho da participação na formulação,
avaliação e controle social das políticas públicas em todos os níveis como
forma de melhorar a qualidade dos serviços prestados ao povo brasileiro.
Mensagem do Papa
Francisco
O Papa Francisco
também este ano enviou uma mensagem por ocasião da abertura da Campanha da
Fraternidade. Eis a íntegra da mensagem do Santo Padre:
Queridos irmãos
e irmãs do Brasil!
“Com o início da Quaresma,
somos convidados a preparar-nos, através das práticas penitenciais do jejum, da
esmola e da oração, para a celebração da vitória do Senhor Jesus sobre o pecado
e a morte. Para inspirar, iluminar e integrar tais práticas como componentes de
um caminho pessoal e comunitário em direção à Páscoa de Cristo, a Campanha da
Fraternidade propõe aos cristãos brasileiros o horizonte das “políticas
públicas”.”
Muito embora aquilo que se entende por política pública seja
primordialmente uma responsabilidade do Estado cuja finalidade é garantir o bem
comum dos cidadãos, todas as pessoas e instituições devem se sentir
protagonistas das iniciativas e ações que promovam “o conjunto das condições de vida social
que permitem aos indivíduos, famílias e associações alcançar mais plena e
facilmente a própria perfeição” (Gaudium
et spes, 74).
Cientes disso, os cristãos – inspirados pelo lema desta Campanha da
Fraternidade “Serás
libertado pelo direito e pela justiça» (Is 1,28) e seguindo o exemplo do divino
Mestre que “não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28) –
devem buscar uma participação mais ativa na sociedade como forma concreta de
amor ao próximo, que permita a construção de uma cultura fraterna baseada no
direito e na justiça. De fato, como lembra o Documento de Aparecida, “são os leigos
de nosso continente, conscientes de sua chamada à santidade em virtude de sua
vocação batismal, os que têm de atuar à maneira de um fermento na massa para
construir uma cidade temporal que esteja de acordo com o projeto de Deus” (n.
505).
De modo especial, àqueles que se dedicam formalmente à política – à que
os Pontífices, a partir de Pio XII, se referiram como uma “nobre forma de
caridade” (cf. Papa Francisco, Mensagem ao Congresso organizado pela CAL-CELAM,
1/XII/2017) – requer-se que vivam “com paixão o seu serviço aos povos, vibrando com as
fibras íntimas do seu etos e da sua cultura, solidários com os seus sofrimentos
e esperanças; políticos que anteponham o bem comum aos seus interesses
privados, que não se deixem intimidar pelos grandes poderes financeiros e
mediáticos, sendo competentes e pacientes face a problemas complexos, sendo
abertos a ouvir e a aprender no diálogo democrático, conjugando a busca da
justiça com a misericórdia e a reconciliação” (ibid.).
Refletindo e rezando as políticas públicas com a graça do Espírito
Santo, faço votos, queridos irmãos e irmãs, que o caminho quaresmal deste ano,
à luz das propostas da Campanha da Fraternidade, ajude todos os cristãos a
terem os olhos e o coração abertos para que possam ver nos irmãos mais
necessitados a “carne de Cristo” que espera “ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por
nós” (Bula Misericórdia vultus, 15). Assim a força renovadora e
transformadora da Ressurreição poderá alcançar a todos fazendo do Brasil uma
nação mais fraterna e justa. E para lhes confirmar nesses propósitos, confiados
na intercessão de Nossa Senhora Aparecida, de coração envio a todos e cada um a
Bênção Apostólica, pedindo que nunca deixem de rezar por mim.”
Vaticano, 11 de fevereiro de 2019.
[Franciscus PP.]
Vatican
News / Portal Kairós
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