Por
Ronaldo Mota
Dentre todas as espécies,
somos a única que possui a incrível habilidade de transmitir cultura e
conhecimento de forma organizada e consciente aos nossos descendentes. Nas
sociedades primitivas, os precursores dos professores eram os responsáveis por
passar ensinamentos de uma geração para outra, onde os mais velhos ensinavam os
mais jovens. Atividades como a arte da caça, a capacidade de sobrevivência, o
trato com as plantações e com as ervas que curam, a segurança e a garantia do
bem-estar da comunidade estavam sujeitas a ritos de passagens. Assim, os pioneiros do processo de ensino e
aprendizagem atestavam as técnicas e procedimentos adquiridos e validavam
esses processos.
À medida que as sociedades
humanas foram se tornando mais complexas, apareceu a figura do artesão,
responsável pela produção de artefatos, utensílios e artesanatos, seja para a
agricultura, o uso doméstico, a lida com os animais ou para a defesa. Esses ensinamentos, técnicas e procedimentos
eram transmitidos pelo mestre aos seus aprendizes, os quais, após ritos de
aprendizagens, se transformavam, com a idade, em artesãos, e assim por diante.
Milênios se passaram e
atualmente o docente é figura
consolidada, reconhecida e respeitada pela sociedade, ainda que entendamos,
corretamente, que pudesse ser mais prestigiada. Contemporaneamente, vivemos
grandes desafios, especialmente pela abrupta emergência das tecnologias digitais que a tudo modifica, transforma
e reconceitualiza.
Acalmando os mais assustados,
lembremos que no século XV, com o advento
do livro moderno de Gutenberg, alguns equivocados sugeriram a possibilidade
do fim da figura do professor. Afinal, quem iria procurar o mestre, que, por
melhor que fosse, improvisa, tendo disponível o livro, supostamente sempre
correto e sem erros, dado que feito com tempo, cuidado e esmero? Na prática,
jamais houve conflito entre o docente e o livro; ao contrário, ambos foram as
grandes alavancas que consolidaram as nascentes universidades europeias. Estas,
por sua vez, propiciaram o amadurecimento do método científico, as tecnologias
dele decorrentes e a Revolução Industrial que, por fim, moldaram as bases da
sociedade atual.
Por vezes, alguns não entendem
por que os educadores não gostam quando o termo “treinamento” é utilizado para
o ofício que nós desenvolvemos. Não é birra e nem soberba; é que treinamento
não é expressão ingênua, mas embute um conjunto de metodologias que é
inapropriado para quem pretende de fato educar. Educação vai muito além da simples transmissão de conteúdos e
jamais se reduz a um conjunto de receitas de procedimentos. Ainda que alguns
possam ter se iludido nos séculos passados, porque os modelos de
desenvolvimento assim o sugeriam, a verdade é que contemporaneamente esses
processos de ensinamento, baseados em treinamentos, são falhos e inócuos.
Educar, mais do que nunca, é emancipar o educando para, fruto dos
ensinamentos dos mestres, ser capaz de
enfrentar desafios complexos. Emancipa-se quando o educando se torna
competente para escrever e interpretar textos complexos ou quando se atinge o
domínio do letramento matemático, indo muito além das operações simples da
aritmética. É emancipatório o pleno domínio do método, especialmente do método
científico, para, utilizando tal ferramenta, entender e interpretar o mundo à
sua volta. Educar é promover a
aprendizagem independente ao longo de toda a vida, entendendo que cada
educando aprende de maneira única e personalizada e que todos aprendem, em
qualquer lugar e o tempo todo.
Neste Dia do Professor temos
sim o que celebrar, particularmente nossa singular responsabilidade em
contribuir na educação das novas gerações. Não podemos tudo na sociedade atual
e sequer temos controle de todos os processos envolvidos, mas temos a capacidade de emancipar,
ensinando nossos educandos a aprender a aprender continuamente. Às novas
gerações cabe continuar colaborando para um desenvolvimento econômico, social e
ambiental sustentável. Enfim, uma
sociedade que seja mais harmônica, justa e respeitosa à rica diversidade,
onde possamos celebrar sermos, felizmente, todos diferentes.
Comemoremos, merecidamente, o
Dia do Professor.
por
Ronaldo Mota (Chanceler da Estácio)
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