Evasão Escolar no Brasil: O papel do gestor na
retenção dos alunos
Por Luísa França
Imagine a seguinte situação: aos 15 anos, Gabriel não vai continuar os
estudos. Ele tem dificuldades de aprendizagem e não vê como as matérias
ensinadas na escola vão ser úteis no seu dia a dia. Por incrível que pareça,
essa é a realidade de milhares de crianças espalhadas pelo país.
A taxa de evasão escolar no Brasil é a terceira maior do mundo: em
média, 24% dos alunos, como Gabriel, não concluem o Ensino Fundamental até os
16 anos. Em uma lista com os 100 países com melhor IDH no mundo, o resultado só
não é pior que o da Bósnia e o das ilhas São Cristóvão e Névis, no Caribe.
Para se ter uma ideia da gravidade da situação brasileira, 41,5% dos
jovens não concluem o Ensino Médio até os 19 anos - ou seja, quase metade dos
jovens não concluem a Educação Básica na idade adequada. Os motivos são vários,
englobando desde as dificuldades financeiras que obrigam o estudante a
trabalhar, até a falta de interesse pelo processo de aprendizagem.
Mesmo com esse cenário desfavorável, de difícil resolução — e que
depende de medidas enérgicas do poder público — algumas atitudes de um bom
gestor escolar podem ajudar a melhorar essa situação. No entanto, antes de
conhecê-las, é preciso entender em maior detalhe os fatores que geram a evasão
escolar e quais são as consequências que decorrem dessa prática.
Fatores que geram a evasão
escolar no Brasil
Conforme mencionado, as causas que levam à evasão escolar são numerosas
e variadas. As razões mais frequentes abrangem a ausência de interesse pela
escola, os transtornos ou dificuldades de aprendizagem, a necessidade de
trabalhar, a falta de estímulo familiar, as questões de saúde, os problemas com
o acesso ao estabelecimento de ensino, entre outras.
O primeiro motivo está diretamente ligado ao contexto educacional em que
o aluno está inserido e existem diferentes razões associadas a ele. A ausência
de interesse pela escola pode ser ocasionada por diversos fatores, entre os
quais estão a proposta pedagógica da escola, o tipo de metodologia empregada
pelos professores e a adoção de práticas que privilegiam o produto da
aprendizagem, mas que pouco se ocupam do processo. Em geral, são posturas que
não colocam o aluno como protagonista.
As dificuldades de aprendizagem também podem ser de natureza múltipla. A
defasagem de competências e habilidades que já deveriam ter sido desenvolvidas
em anos anteriores, a incompatibilidade entre o método de ensino docente e os
nível de aprendizagem dos alunos, bem como a falta de investimento em
tecnologias que facilitam o processo educacional são os principais fatores
associados.
No que se refere a outras causas apontadas - como os transtornos de
aprendizagem, a falta de estímulo familiar e os problemas com o acesso ao
estabelecimento de ensino - embora não estejam diretamente ligadas à escola,
podem receber a intervenção desta. Isso é possível por meio de ações mediadoras
por parte da instituição com a finalidade de minimizar esses tipos de condições
desfavoráveis.
As principais consequências da
evasão escolar
A evasão escolar traz consequências tanto para o aluno que evade quanto
para a instituição em que ele estava estudando. O estudante que deixa de
estudar pode não ter mais motivação ou mesmo condições para voltar à sala de
aula, o que leva ao despreparo profissional formal e tende a ocasionar maiores
dificuldades de inserção no mercado de trabalho. Soma-se a isso a sua privação
aos processos de letramentos acadêmicos oferecidos somente na escola e
essenciais ao exercício da cidadania.
No caso da instituição de ensino, a evasão contribui negativamente para
o cálculo das taxas de rendimento escolar, pois esses índices têm como base o
somatório do número de estudantes aprovados, reprovados e evadidos em um dado
ano letivo. Tais taxas são de suma importância para a escola, uma vez que são
usadas para o cálculo do Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica –,
fundamental para o monitoramento da qualidade da instituição.
A seguir são apresentadas algumas práticas que um bom gestor de ensino
pode adotar com o objetivo de diminuir a evasão escolar na sua instituição.
Tratam-se de atitudes benéficas não só para os alunos, que tenderão a dar
continuidade em seus estudos, mas também para a escola, que fará jus à sua
atividade-fim e melhorará os seus índices de fluxo.
Práticas
que contribuem para a redução da evasão escolar
1. Acompanhar a frequência do
aluno
O gestor escolar, por mais que seja um profissional ocupado com as
várias questões que envolvem gerir uma escola, pode estar mais presente no dia
a dia da sala de aula. Procurar conhecer os alunos de perto, acompanhar o
desenvolvimento dos professores e conversar com os funcionários da escola são
algumas das boas práticas que podem ser implementadas nesse sentido.
Para diminuir os números da evasão escolar, uma atitude simples, mas de
grande importância, é acompanhar a frequência dos alunos. Se você perceber que
um estudante passou a faltar demais ou que mudou seu comportamento de um ano
para o outro, pode ser um sinal de que as coisas não estão indo bem em casa.
Converse tanto com o estudante quanto com sua família, procure entender
os motivos das faltas e se esforce para buscar soluções que ajudarão a reverter
a situação, para mantê-lo dentro da sala de aula. Em casos mais críticos, é
válido manter a atenção redobrada.
2. Investir em tecnologia e na
qualidade do ensino
Uma pesquisa feita em 2009 pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontou
que 4 em cada 10 alunos que abandonaram a escola alegavam o desinteresse como
principal razão para não voltar às carteiras. Segundo o levantamento, esses
jovens não viam sentido nas matérias ensinadas e afirmavam que os conteúdos não
os estimulavam a ponto de levar a escola a sério.
Uma saída para esse problema é adaptar o método de ensino à geração que
está nas escolas hoje, explorando a tecnologia como aliada na sala de aula.
Esses jovens cresceram com maior facilidade de acesso à internet, com perfil de
participação e interação nas redes também maiores. Portanto, aulas que são, na
verdade, grandes monólogos, não os atraem. Propor novas práticas pedagógicas e
investir em algumas ferramentas tecnológicas que apoiam o processo de
ensino-aprendizagem podem ajudar a reduzir a evasão escolar.
3. Buscar ajuda
Ainda de acordo com a pesquisa feita pela FGV, 27,1% dos alunos também
abandonam a escola por ter que se dedicar ao trabalho. Outros 21,7% alegaram
outros motivos — como gravidez, problemas de saúde na família, de transporte,
etc. Ou seja, levando esses casos em consideração, nem sempre a escola é capaz
de resolver o problema daquele estudante.
Nessa hora, é importante contar com uma rede de apoio sólida. O que
acontece dentro dos muros de uma escola é problema de toda a comunidade
escolar. Em algumas situações, como a necessidade de abandonar o estudo para
ajudar na complementação de renda da família, por exemplo, é importante acionar
a assistência social da prefeitura de seu município. É ela quem vai entrar em
contato com a família e sugerir o ingresso dessas pessoas em políticas públicas
específicas.
Ou seja, estar mais presente no dia a dia dos alunos, dos professores e
também dos familiares pode ajudar a diminuir a evasão.
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