Saiba
tudo sobre planejamento escolar
Por
Luísa França
Para pais e alunos,
planejar-se com relação às atividades da escola pode significar apenas comprar
os materiais necessários para o próximo ano letivo, estudar para as provas,
fazer as lições de casa e conciliar a vida social e familiar com os
compromissos dos estudantes no colégio. Desse ponto de vista, é fácil se
esquecer de que por trás do que parece ser apenas um calendário de obrigações e
afazeres há um planejamento escolar
minucioso de toda a equipe, envolvendo professores, diretoria e
coordenação, assim como todas as exigências locais, municipais, estaduais e
federais.
Este artigo consiste em um
guia completo sobre como montar as engrenagens dessa máquina complexa que é o
planejamento escolar e, depois, mantê-lo funcionando a todo vapor durante todo
o ano. Entenda melhor o que é e qual a
importância desse planejamento, aprenda a elaborá-lo com o máximo de eficiência
e conheça os benefícios que esse investimento trará para a sua escola.
1. O
que é o planejamento escolar
Como o nome já dá a entender,
o planejamento escolar é um plano
elaborado periodicamente para definir as atividades futuras da escola.
No entanto, além das questões
que podem parecer meramente burocráticas — como distribuição dos conteúdos pela
grade de horários, definição das turmas, elaboração do calendário escolar, etc.
— esse documento é fundamental para entender como a escola pode cumprir sua
missão diante de suas demandas e obstáculos particulares.
Para isso, o planejamento deve acontecer em três
etapas, que destacamos a seguir:
O que
e para quê: finalidade
Em primeiro lugar, o
planejamento serve para questionar e precisar o que será ensinado e por quais
motivos. Assim, ele esboça as intenções da instituição de ensino, explicitando
o que cada turma ou professor espera atingir ao final do período letivo
contemplado no plano.
No momento de esclarecer o que
será ensinado, ou seja, o conteúdo de
cada disciplina, para cada ano e em cada etapa, é importante basear-se nas
diretrizes repassadas pelo MEC — por meio da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), por exemplo — e pelas secretarias
municipais e estaduais.
Além disso, cabe lembrar que a
escola também tem liberdade para acrescentar seus próprios projetos e conteúdos
no currículo. É sobretudo neste ponto que entra a questão do para quê e da própria identidade da
escola.
Isso porque o planejamento não
deve limitar-se aos conteúdos curriculares previstos por lei, mas deve focar-se
ainda em cumprir a missão proposta pela escola em seu Projeto Político Pedagógico (PPP), considerando seus valores e o
tipo de cidadão que pretende formar.
Outro ponto indispensável
nesse momento e que contempla tanto a questão curricular em si quanto sua
finalidade é a necessidade de se considerar
a progressão dos alunos pelo conhecimento de uma maneira mais macroscópica.
Isso significa não perder de vista, no planejamento de cada série, o panorama
de todo um ciclo de aprendizado em que cada nova etapa exigirá o domínio de
conhecimentos prévios.
Trata-se, em suma, de um
projeto muito amplo, e que exatamente por isso deve ser elaborado com o apoio
de toda a equipe pedagógica e deve ser revisto periodicamente.
Onde:
realidade
Se o passo anterior
concentra-se de uma maneira mais teórica nas intenções da escola para o próximo
período letivo, neste ponto deve-se sair do mundo das ideias para se encarar a
realidade em que a instituição está inserida.
Nesta parte do planejamento,
deve-se analisar dois aspectos da
realidade escolar:
■
a realidade interna, que reflete a
infraestrutura da instituição, a qualificação e o número dos docentes, os
resultados dos alunos nas últimas etapas, as principais dificuldades
enfrentadas pela gestão pedagógica, entre outros;
■
a realidade externa, que inclui, por
exemplo, o relacionamento com os pais dos alunos e com a comunidade escolar,
além do cumprimento das exigências do mercado e do governo.
Pesquisas, análises,
avaliações diagnósticas e coleta de depoimentos de todos os membros da
comunidade podem ser úteis para ajudar a compreender a situação da escola de
maneira mais apurada e completa.
Como:
plano de ação
Aqui, cabe confrontar as intenções da escola com sua
realidade para, por fim, compor um plano de ação que combine o que se quer
fazer com o que é viável e factível. A partir disso, será possível decidir como
a escola poderá aproximar-se dos seus
objetivos sem desconsiderar o seu contexto.
Elabora-se, então, um
documento que se desdobra em vários níveis, afunilando-se da instituição de
ensino como um todo até o planejamento de cada professor em cada turma e
disciplina.
De maneira mais ampla,
definem-se questões burocrático-administrativas
que afetarão todos os alunos e professores (assim como, muitas vezes, a
comunidade local), como por exemplo:
■
o calendário geral da instituição;
■
as regras de uso dos espaços coletivos (pátio, quadras, bibliotecas, laboratórios,
entre outros);
■
os projetos interdisciplinares que devem contar com a participação de todos os
alunos.
A seguir, para cada ano,
define-se o calendário de avaliações, distribuem-se os alunos em turmas e
monta-se a grade de horários. Por último, os professores devem ser orientados
em relação ao cumprimento do currículo, de maneira a deixar claro o que se espera
de cada um.
Formas de avaliação, objetivos
não curriculares e diretrizes de ação em casos específicos também devem fazer
parte do plano. Dessa forma, o documento cumpre seu papel como guia para toda a
comunidade escolar.
2.
Qual a importância do planejamento escolar?
Depois de entender um pouco
melhor o que é, para que serve e como é feito o planejamento da escola, é
possível analisar, em detalhes, por que
ele é tão importante.
Transformar
ideias em realidade
Longe de ser apenas um
requisito burocrático ou um documento cujas propostas não vão sair do papel, o planejamento é uma oportunidade para que
a escola repense sua missão, bem como a participação dos professores e
coordenadores em seu cumprimento.
Ao confrontar a realidade da
escola com as intenções da equipe e elaborar um plano de ação, o planejamento
provoca um questionamento que ajuda a gerar soluções para concretizar os ideais
da escola, ao mesmo tempo em que traz esses objetivos para o dia a dia da
instituição.
Dessa forma, toda a equipe pode trabalhar junta em prol
da mesma missão, sendo constantemente relembrada do contexto e do papel de
cada um pelo planejamento geral.
Isso possibilita que cada
membro da equipe direcione seu próprio trabalho para o objetivo que toda a
escola tem em comum, facilitando a realização do que foi proposto e aliando
todo o plano da instituição com sua missão e seus valores.
Revisar
e reavaliar o que já foi feito
Outro ponto importante do
planejamento é que ele obriga a equipe pedagógica a rever as ações e os resultados do passado a fim de manter as
atitudes positivas e mudar aquelas que não têm levado a escola a alcançar seus
objetivos.
Por consequência, a cada novo
planejamento surge a oportunidade de avaliar o que foi feito no planejamento
anterior e, assim, pensar em novas estratégias para que a instituição continue
avançando continuamente, sempre atenta aos novos desafios e às demandas que
possam surgir de dentro ou de fora da escola.
Nesse sentido, é muito
importante pensar no planejamento escolar não como algo estático e definitivo,
mas como um documento norteador que deve ser sempre revisado com base na
realidade da instituição.
Trocar
ideias e experiências entre os docentes
A elaboração de cada novo
planejamento também representa uma oportunidade
de incentivar a troca de ideias e experiências entre professores e
coordenadores.
Além de reportar problemas e
obstáculos relativos ao planejamento anterior, chamando a atenção para o que
deve ser modificado no próximo ano, o encontro de toda a equipe docente e pedagógica
possibilita, por exemplo, o compartilhamento de soluções encontradas por cada
um no enfrentamento de desafios em comum, assim como conhecimentos adquiridos
no dia a dia ou na formação continuada.
Dessa forma, todos podem
aprender uns com os outros, os laços entre as diferentes partes da equipe se
estreitam e, claro, a escola levanta propostas mais eficientes para cumprir sua
missão com a participação quem mais entende da sua realidade particular.
Conciliar
os interesses de toda a comunidade
Considerando todo o contexto
de atuação da instituição de ensino (isto é, relações internas entre discentes,
docentes e funcionários; assim como externas, com os pais, o governo e toda a
comunidade), o planejamento articula
todos os interesses diversos com o papel da própria escola a fim de atingir seu
objetivo final — educar seus alunos — da melhor forma possível.
Portanto, além de possibilitar
a troca de experiências entre os membros da equipe de coordenação pedagógica e
docente, o planejamento escolar também é o momento de dar voz ao conselho de pais e à comunidade, a fim de combinar os
interesses de todos aqueles que de alguma forma têm participação na escola,
tornando-a mais democrática e consciente das demandas externas.
3.
Como fazer um planejamento escolar eficiente
O
planejamento é importante para que as ideias e propostas da escola não fiquem
só no papel, certo?
Para isso, é fundamental
passar da teoria à prática. A seguir, veja como elaborar um bom planejamento na
sua instituição e prepare-se para colocar a mão na massa.
Reúna
toda a equipe e incentive o debate e o diálogo
O primeiro requisito para se
fazer um planejamento eficiente é reunir
professores e coordenadores pedagógicos para dialogar sobre o futuro da escola.
É importante estabelecer uma
relação de igualdade entre os participantes do debate, acolhendo a opinião e o
conhecimento de cada um como essencial para a formação do novo planejamento.
Nesse contexto, o coordenador pode servir como mediador da discussão, dando voz
a todos os participantes, anotando as pautas e propostas levantadas e
conciliando interesses diversos a fim de se chegar a um consenso.
Vale lembrar que quanto mais
experiências e opiniões forem partilhadas mais rico será o debate e,
consequentemente, mais democrático e assertivo será o planejamento.
Principalmente nos quesitos mais polêmicos ou em relação aos obstáculos
enfrentados pela escola, a diversidade de pontos de vista poderá contribuir
para que se encontre mais facilmente a raiz do problema e, assim, uma solução
viável para ele.
Por
meio da discussão, a escola garante ainda que todos os professores e
coordenadores se sintam contemplados pelo novo planejamento e compreendam sua
importância, dando o seu melhor para que ele seja cumprido.
Contraste
dados recentes com planejamentos anteriores
Um bom planejamento é
construído com base não apenas no contexto e a realidade da escola do presente,
mas também nos resultados e documentos de anos anteriores, mesmo que tenham sido
elaborados por processos distintos.
Nesse contexto, é muito
importante analisar os resultados por meio de dados, que oferecem uma
perspectiva objetiva e precisa do que aconteceu. Assim será possível
identificar de maneira assertiva as estratégias e atitudes que não têm sido
positivas e substituí-las por novas soluções. Além disso, a análise de dados
também vai ajudar a escola a levantar dificuldades e desafios para que sejam
trabalhados e superados com a ajuda do novo planejamento.
Transforme
o planejamento em metas realizáveis
Para que aquilo que foi
planejado no início ano seja realmente aplicável, é imprescindível que se
estabeleçam ações passíveis de serem realizadas pelos docentes. Para isso, é
recomendável que todo o planejamento transforme seus objetivos propostos em
tarefas que sejam:
■ objetivas, no sentido de
trazerem ações concretas e claras;
■ mensuráveis, possibilitando
que, mais tarde, seja possível verificar nitidamente se a ação foi concluída ou
não;
■ datadas, isto é, com um
prazo para seu cumprimento.
Nesse caso, se a escola quer melhorar o desempenho dos alunos no ENEM,
por exemplo, os professores poderiam incluir no planejamento o seguinte
objetivo:
“Conseguir
uma média geral acima de X pontos no
próximo ENEM”
Esse objetivo deve ser
desdobrado em tarefas de curto prazo que permitam, ao longo do ano letivo,
verificar se a escola está caminhando para o cumprimento do que foi proposto ou
não. Ainda no exemplo da média geral do
ENEM, uma maneira de fazer isso seria por meio de simulados regulares que
indiquem o que precisa ser melhorado para se atingir o objetivo final.
Permita
a flexibilidade e faça revisões regulares do plano
Como todo planejamento, aquele
feito pela escola também enfrentará, ao longo de seu cumprimento, imprevistos e
incidentes que obrigam a equipe a mudar de curso no meio do caminho. Diante
disso, nada melhor do que prever a necessidade dessas alterações e organizar
reencontros periódicos com todos os docentes e coordenadores para avaliar e
revisar o planejamento proposto.
É possível, por exemplo,
promover reuniões bimestrais ou trimestrais em que os objetivos estabelecidos
no planejamento são contrastados com os últimos resultados dos alunos e a
vivência dos professores a fim de verificar se alguma intervenção é necessária
ou se as estratégias estão mesmo funcionando.
Baseado nesses encontros,
pode-se mudar de tática ou mesmo alterar as prioridades da escola e propor
novas tarefas, de acordo com o que aconteceu desde o planejamento inicial.
Colha
feedbacks diversos constantemente
Para acompanhar o efeito do
planejamento ao longo do ano letivo, é interessante que a escola esteja sempre
aberta ao diálogo e incentive o feedback de toda a comunidade escolar. Isso
significa que, além de organizar as reuniões regulares com os membros da
equipe, é importante consultar também pais e alunos, bem como outros membros da
comunidade escolar e local.
Dessa maneira, será possível
manter o planejamento em concordância com as demandas e necessidades de cada
um, monitorar os obstáculos enfrentados dentro e fora da escola e atentar-se
para que as ideias e intenções elaboradas de início estejam sempre de acordo
com a realidade mais da sala de aula e dos estudantes.
4.
Vantagens e benefícios de se ter um planejamento escolar
Depois de explorar o que é o
planejamento escolar, qual é a sua importância e como ele pode ser elaborado,
cabe ressaltar, ainda, alguns dos principais
benefícios dessa ação para a escola e para a comunidade.
Guia
para o planejamento cotidiano dos professores
Ao organizar — com base no Projeto Político Pedagógico da escola e
na BNCC — os conteúdos a serem estudados por cada série em cada disciplina, o
planejamento não só garante que todo o currículo seja contemplado
adequadamente, como também facilita a
organização cotidiana dos professores e a preparação das aulas.
Assim, o planejamento ajuda a
nortear a atividade do professor, que deve decidir, a partir disso, como cada
assunto será trabalhado e como se adequar às atividades interdisciplinares do
calendário. Dessa forma, é possível:
■ reduzir o tempo
gasto pelo professor no plano de aula diário, já que o planejamento
escolar servirá de guia para orientá-lo;
■ organizar o
conteúdo ensinado em cada ano nas diferentes turmas (para as escolas com mais de
um professor da mesma disciplina lecionando no mesmo nível, por exemplo, isso é
especialmente importante);
■ dar espaço para
que intervenções pedagógicas específicas (como a necessidade da
revisão de conteúdos) sejam aplicadas sem afetar os prazos gerais.
Emprego
correto dos dados obtidos nas avaliações dos alunos
Coletar dados e informações
sobre o desempenho dos alunos — seja por meio das próprias atividades
avaliativas internas e/ou por avaliações externas — é uma excelente maneira de
identificar lacunas no aprendizado e o planejamento é o momento ideal para se
pensar em ações específicas e colocá-las em ação.
Quando as provas e exames
indicam, por exemplo, uma dificuldade de determinada turma em Matemática, é
possível ir mais fundo para descobrir precisamente qual é o problema e, por
meio do planejamento, organizar a aplicação de uma intervenção pedagógica
específica para que a dificuldade seja sanada.
Da mesma forma, quando os
resultados são positivos, pode-se recorrer ao planejamento para destacar as
ações que deram certo para que continuem a ser aplicadas em outros contextos ou
nos próximos anos letivos.
Inclusão
da formação docente continuada nos objetivos da escola
Com um plano organizado que
norteia a ação de toda a equipe, fica mais fácil tornar a formação continuada
dos docentes uma prioridade para a escola, bem como direcionar essa formação
para as necessidades internas e externas já apontadas pelo próprio
planejamento.
Ao incluir essa questão entre
os objetivos da escola, a direção garante que ela será contemplada e
tranquiliza os professores ao conciliar, no planejamento, sua formação com seu
trabalho na instituição. Além disso, é válido destacar que a própria
instituição é beneficiada, diante do conhecimento adquirido pelos docentes por
meio dessa oportunidade.
Cumprimento
das exigências externas
Outro benefício do
planejamento escolar é o fato de ele prever o cumprimento das exigências do
Ministério da Educação de tal forma que, com o plano pronto, basta à direção e
à coordenação da escola verificar se todos requisitos estão sendo atendidos.
Assim, não se corre o risco de se esquecer de algum ponto importante nem de se
ter que reformular o plano no meio do semestre para acatar alguma exigência
negligenciada, por exemplo.
Além disso, como o
planejamento também pressupõe uma pesquisa prévia quanto às demandas dos pais e
do próprio mercado de trabalho, ele serve ainda como forma de aproximar a
escola dessas exigências e, consequentemente, de oferecer uma formação mais
relevante aos estudantes.
Realização
de mudanças efetivas
Quantas vezes uma instituição
— ou, por que não, uma pessoa, em sua vida pessoal — precisa adotar algumas
mudanças para melhorar, mas simplesmente não consegue deixar de fazer o que
sempre fez?
Nesse contexto, o planejamento
é também uma forma de garantir que as melhorias de que a escola, os professores
e os alunos precisam sejam efetivamente realizadas, por meio de prazos e
tarefas mensuráveis e com o apoio de toda a comunidade.
Abandonar velhos hábitos e
mexer-se para fazer as transformações acontecerem realmente não é fácil, mas
quando há objetivos acordados entre todos e planos bem definidos para
conquistá-los, é mais fácil engajar todos os personagens da escola para que
façam a sua parte e assim cumprir com a missão que se propôs.
Conclusão
O planejamento escolar só tem
vantagens a oferecer à escola, à sua equipe, aos alunos e a toda a comunidade
em seu entorno. Com este guia em mãos, vai ficar mais fácil elaborar o seu
próprio planejamento e engajar a sua equipe na busca pelos objetivos da escola.
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