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terça-feira, 23 de outubro de 2018

Leitura: "Garrafas ao mar, poesia" de Adriane Garcia


Em seu novo livro, autora mineira usa da síntese para transmitir temas profundos



A função da poesia é a de suprir os espaços em branco. Pelo menos, é assim que Adriane Garcia, autora que está lançando o terceiro livro de poemas, enxerga a sua linguagem, cuja marca é o cuidado com a elaboração de sua poesia, a escolha criteriosa de cada palavra em cada verso. Garrafas ao mar, que sai pela Editora Penalux, traz poemas que permitem mostrar vários aspectos da vida humana – sentimentos, reflexões – e revelam também os naufrágios do mar interior de cada um. “Estamos em um mundo de muitas mensagens”, diz Adriane, “e de muitos náufragos”.



“Os poemas de Garrafas ao mar vestem qualquer corpo, qualquer gênero, qualquer idade, em qualquer lugar”, atesta o escritor Alberto Bresciani. E completa: “Estão ao alcance de todos e, sem nenhuma gratuidade (Quando não houver o que falar / Faça um verso de silêncio), dão voltas ao mundo. Este mundo que a poeta partilha com seus contemporâneos e que apresenta sob a vastidão de sua poesia”.



A força da síntese é outro ponto de destaque escrita de Adriane Garcia. “A poesia se constitui como um gênero elevado em sua capacidade de abstração e deslocamento do ordinário”, declara a autora. “Também pode manter seu nível de engenhosidade sem abrir mão da comunicação, da crítica, da clareza e da vontade de mover algo no outro”, conclui.



Embora a poesia tenha esta característica fundamental de permitir a elaboração de sentimentos e pensamentos, o poeta nunca sabe se sua mensagem encontrará um receptor para além do oceano de informações e distrações que nos permeia. É o que parece nos alertar o título do livro, Garrafas ao mar, referência às garrafas lançadas ao mar pelos náufragos. De fato, poemas são mensagens lançadas ao acaso, na espera da escuta. Há uma esperança de ser alcançado, mas também uma possibilidade real de não se chegar aos olhos de ninguém.



O livro ainda tenta dialogar com a ideia do ir-e-vir das ondas, visto que os poemas variam em temas e humor, e coincidem com esta premissa: “todo náufrago tem seu próprio mar interior, seu abismo e sua superfície clara e azul”.



Líria Porto, outra exímia poeta mineira, destaca na orelha do livro: “Desde o título do livro, sentimo-nos atraídos, impelidos a desvendar o que há dentro do invólucro, descobrir o que existe na mensagem que atravessa a imensidão e se deposita na areia, bem diante de nós! Rompemos o lacre, penetramos pelas páginas e percebemos que os versos não foram escritos por um náufrago, mas por uma poeta de punho firme, capaz de se colocar diante das fatalidades e injustiças com muita coragem, com muita lucidez. Além das palavras bem escolhidas, do ritmo e estilo próprios, cada poema nos faz pensar, parar para refletir sobre nós mesmos e o mundo que nos cerca e nos atinge”.



A poesia como comunicação e o poema como forma não só de refletir, mas também forma de sentir – eis a proposta central deste novo livro de Adriane Garcia. Em sua concepção criativa, é preciso deixar que o leitor preencha o não-dito, que perceba que as mensagens lançadas ao mar podem pertencer a todos os temas, pessoais, políticos, amorosos, filosóficos, pois tudo nos angustia ou nos oferece salvação.



“A palavra quando busca a beleza”, finaliza a poeta, “consegue cumprir um papel da linguagem: tirar-nos do ordinário”. 

Sobre a Autora
 
Adriane Garcia, nascida em Belo Horizonte, MG, cidade onde reside.

Publicou Fábulas para adulto perder o sono (Prêmio Paraná de Literatura, 2013), O nome do mundo (editora Armazém da Cultura, 2014) e Só, com peixes (ed. Confraria do Vento, 2015).

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