Em seu novo livro, autora mineira usa da síntese para transmitir temas
profundos
A função da poesia é a de suprir os espaços em branco. Pelo menos, é
assim que Adriane Garcia, autora que está lançando o terceiro livro de poemas,
enxerga a sua linguagem, cuja marca é o cuidado com a elaboração de sua poesia,
a escolha criteriosa de cada palavra em cada verso. Garrafas ao mar, que sai
pela Editora Penalux, traz poemas que permitem mostrar vários aspectos da vida
humana – sentimentos, reflexões – e revelam também os naufrágios do mar
interior de cada um. “Estamos em um mundo
de muitas mensagens”, diz Adriane, “e
de muitos náufragos”.
“Os poemas de Garrafas ao mar
vestem qualquer corpo, qualquer gênero, qualquer idade, em qualquer lugar”, atesta o escritor
Alberto Bresciani. E completa: “Estão ao
alcance de todos e, sem nenhuma gratuidade (Quando não houver o que falar /
Faça um verso de silêncio), dão voltas ao mundo. Este mundo que a poeta
partilha com seus contemporâneos e que apresenta sob a vastidão de sua poesia”.
A força da síntese é outro ponto de destaque escrita de Adriane Garcia. “A poesia se constitui como um gênero
elevado em sua capacidade de abstração e deslocamento do ordinário”,
declara a autora. “Também pode manter seu
nível de engenhosidade sem abrir mão da comunicação, da crítica, da clareza e
da vontade de mover algo no outro”, conclui.
Embora a poesia tenha esta característica fundamental de permitir a
elaboração de sentimentos e pensamentos, o poeta nunca sabe se sua mensagem
encontrará um receptor para além do oceano de informações e distrações que nos
permeia. É o que parece nos alertar o título do livro, Garrafas ao mar,
referência às garrafas lançadas ao mar pelos náufragos. De fato, poemas são
mensagens lançadas ao acaso, na espera da escuta. Há uma esperança de ser
alcançado, mas também uma possibilidade real de não se chegar aos olhos de
ninguém.
O livro ainda tenta dialogar com a ideia do ir-e-vir das ondas, visto
que os poemas variam em temas e humor, e coincidem com esta premissa: “todo
náufrago tem seu próprio mar interior, seu abismo e sua superfície clara e
azul”.
Líria Porto, outra exímia poeta mineira, destaca na orelha do livro: “Desde o título do livro, sentimo-nos
atraídos, impelidos a desvendar o que há dentro do invólucro, descobrir o que
existe na mensagem que atravessa a imensidão e se deposita na areia, bem diante
de nós! Rompemos o lacre, penetramos pelas páginas e percebemos que os versos
não foram escritos por um náufrago, mas por uma poeta de punho firme, capaz de
se colocar diante das fatalidades e injustiças com muita coragem, com muita lucidez.
Além das palavras bem escolhidas, do ritmo e estilo próprios, cada poema nos
faz pensar, parar para refletir sobre nós mesmos e o mundo que nos cerca e nos
atinge”.
A poesia como comunicação e o poema como forma não só de refletir, mas
também forma de sentir – eis a proposta central deste novo livro de Adriane
Garcia. Em sua concepção criativa, é preciso deixar que o leitor preencha o
não-dito, que perceba que as mensagens lançadas ao mar podem pertencer a todos
os temas, pessoais, políticos, amorosos, filosóficos, pois tudo nos angustia ou
nos oferece salvação.
“A palavra quando busca a
beleza”, finaliza a poeta, “consegue
cumprir um papel da linguagem: tirar-nos do ordinário”.
Sobre a Autora
Adriane Garcia, nascida em
Belo Horizonte, MG, cidade onde reside.
Publicou Fábulas para adulto
perder o sono (Prêmio Paraná de Literatura, 2013), O nome do mundo (editora
Armazém da Cultura, 2014) e Só, com peixes (ed. Confraria do Vento, 2015).
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