por Raquel Alves
Venho divagando sobre a sensibilidade. Acho difícil conceber que algo
tão abstrato provoque tantos sentimentos, direcione olhares e modifique a vida
das pessoas. Como algo tão etéreo tem esse poder todo?
Saramago dizia “Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu,
fizeram-no de carne, e sangra todo dia.” Poucos homens me entendem tão bem
quanto Saramago. Todo dia, sem exceção. Mesmo rindo às gargalhadas. A
sensibilidade, tão invisível se faz real e parte de carne, faz meu peito doer
diante do mundo.
Muitos acham que é tristeza, mas não é. A dor da tristeza é diferente. É
como comparar uma cólica de rim com uma coceira. A dor do meu peito é como uma
coceira que me desperta para as belezas desse mundo. E quando as vejo, coça
ainda mais, mas alivia. Não é para entender. É para sentir. Um mar que se
compreende não passa de um aquário. É como ver o sol se pondo num quadro. Não
tem graça porque nunca vai escurecer.
A sensibilidade é essa dor no peito que faz a gente inventar mais
beleza. É graças a ela que no mundo todo se faz arte, em todas as suas formas.
Na China se fez uma das arquiteturas mais esculpidas e desenhadas que os
arquitetos sensibinventaram.
Na França e na Itália, nasceram os primeiros jardins projetados por
paisagistas. Na Europa antiga Mozart, Bach e Beethoven alimentaram suas almas
através da música. Nos EUA nasceu o Jazz. No Mundo todo artistas desenharam,
musicaram e arquitetaram belezas. Mas eu não faço arte nenhuma. Minha sensibilidade
fica entalada dentro de mim e as vezes eu choro pelo simples prazer de estar
viva.
A vida é mágica. Já imaginaram que coisa mais louca é isso, estar vivo?
Ver, ouvir, rir, amar? Ah, eu amo a minha sensibilidade. Se meu peito dói
sempre, deixe doer… Ao menos pôr do sol algum passará em vão. E o mistério
dessa vida será visto cheio de beleza. Porque assim escolho, assim será.
Como dizia Rubem Alves “Tempus Fugit” – o tempo foge. Portanto “Carpe
Diem”- colha seu dia.
Nenhuma beleza pode ser economizada para amanhã. Porquê somos finitos.
Sim, meu peito “coça” o tempo todo. Ainda bem!
Fonte: A Grande Arte de Ser Feliz
Chagal
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