O mais importante no filme é exatamente o resultado obtido com os
alunos. Não importando o quanto utópico ele possa ser. O filme nos mostra
dezenas de caminhos a seguir na prática docente, sem haver a exigência de uma
prática totalmente igual e, talvez, inatingível.
É importante analisar as ações pedagógicas, sociais e culturais no filme
Conrack, produzido em 1974 com
direção de Martin Ritt. Uma análise
com foco nos três personagens principais: Pat
Conroy (o professor, representado por Jon Voight), Sra. Scott (a diretora,
representada por Madge Sinclair) e Sr. Skeffington (o superintendente,
representado por Hume Cronyn). Além
disso, também fazer uma abordagem em relação aos alunos da escola.
Pat Conroy é um professor
branco que passou boa parte de sua vida como racista. Tem a oportunidade de
redimir-se, ensinando crianças negras em uma ilha em que essa raça é a
predominante. Em sua primeira aula, depara-se com alunos que não sabem
absolutamente nada, que desenvolveram sua própria linguagem e cujos recursos
pedagógicos utilizados até então eram baseados em castigos físicos e
psicológicos:
Sete
de meus alunos não conhecem o alfabeto, três crianças não sabem escrever o
nome, dezoito crianças não sabem que estamos em guerra no sudeste da Ásia.
Nunca ouviram falar em Ásia. Uma criança pensa que a terra é chata e dezoito
concordam com ela. Cinco crianças não sabem a data do nascimento. Quatro não
sabem contar até dez, os quatro mais velhos pensam que a guerra civil foi entre
os alemães e japoneses. Nenhum deles sabe quem foi George Washington ou Sidney
Poitier, nenhum, jamais foi ao cinema, nem subiu no morro, nem andou de ônibus,
esses meninos não sabem de nada.
Dessa forma, Conroy desenvolve
sua prática de ensino “revolucionário”, focando-se nas necessidades dos alunos,
interpretadas por ele como a falta de oportunidades de participarem da cultura
branca americana. Apesar de todo o esforço do professor, a pedagogia que ele
desenvolve parte do ponto de vista branco, pois era um branco numa ilha da
Carolina do Sul, ensinando cultura branca aos seus alunos.
Contudo, os tempos e espaços foram, sem dúvida, diferentes daqueles
vivenciados sob a tutela da diretora negra, que, embora representasse o mesmo
grupo de representação dos alunos e alunas como pertencente à mesma raça e, com
os quais dividia o mesmo espaço cultural, fora colonizada pela cultura branca,
e investida de um lugar de representação na comunidade branca, agia com seus
alunos a partir desta política cultural, onde o negro precisava ser duro e
saber enfrentar a vida como um ser inferior.
Outras experiências foram oportunizadas por Pat Conroy em outros espaços pedagógicos além dos escolares,
ampliando assim o conceito de pedagogia. Quando ensinava na praia, na floresta,
no chão da escola, na festa de Halloween, na viagem de barco, nas ruas de
Beaufort, esse professor fazia deslocamentos no tempo e espaço, e sua tentativa
era de inclusão dessas crianças na vida americana. Quando leva seus alunos e
alunas a participar da festa de Halloween, ensina a nadar, convive com os
habitantes da ilha e ensina a seus alunos e alunas a convivência na ilha, Pat Conroy produz deslocamentos de
tempos e espaços escolares. A pedagogia do herói se caracteriza por esse
desbravamento, por essa conquista de novos lugares, desse ultrapassar
fronteiras, dessa luta e competição.
Em Conrack, o sistema é
representado pelo superintendente Skeffington
que, diferentemente da diretora, não é um simples alvo da colonização branca,
mas é um branco impregnado pelo racismo e autoritarismo no sistema escolar: “Este é o meu latifúndio!”, diz ele em
uma cena do filme.
E o sistema vence no final. Conroy
é demitido e, por mais que seus esforços tenham sido extremamente produtivos e
gratificantes, o próximo professor, quem sabe, não terá a mesma força de
disposição que Conroy teve ao lidar
com aqueles alunos que tanto precisavam da atenção que lhes foi dada.
Por isso, o mais importante é exatamente o resultado obtido com os
alunos. Não importando o quanto utópico ele possa ser. O filme nos mostra
dezenas e caminhos a seguir na prática docente, sem haver a exigência de uma
prática totalmente igual e, TALVEZ, inatingível.
REFERÊNCIAS
FABRIS, Elí Terezinha Henn. As
marcas culturais da Pedagogia do herói. In: 24ª Reunião Anual da Associação de
Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd): intelectuais, conhecimento e
espaço público, 2001, Caxambu (MG). 24ª Reunião Anual da Associação de
Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd): intelectuais, conhecimento e
espaço público.
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