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terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Quanto vale a vida? Quanto, Vale?



Outra barragem se rompeu. Pouco mais de três anos após a tragédia de Mariana, que deixou 19 mortos, outro município de Minas Gerais, Brumadinho, é agora manchete dos principais jornais do país por razões muito semelhantes.

De acordo com nota divulgada pela Vale do Rio Doce, empresa responsável pela barragem, as primeiras informações indicam que os rejeitos atingiram a área administrativa da companhia e parte da comunidade da Vila Ferteco. Não há ainda notícias em relação à quantidade de feridos, desaparecidos ou em relação a mortes, mas vídeos que circulam na internet já mostram o heroico corpo de Bombeiros realizando resgastes. Também não é possível calcular, ainda, a extensão dos danos ambientais provocados por mais essa “fatalidade”.

Diante de situações como essa nos vemos quase que imediatamente inclinados a tentar identificar as causas do problema e as possíveis soluções; somos inundados, então, pelos noticiários, com informações técnicas sobre as condições da obra e muitas vezes somos levados a acreditar que a “fatalidade” se deveu a erros procedimentais, “falha humana”, ou questões contingenciais e imprevisíveis. No entanto não necessário muito esforço para compreender que o problema de fundo (e também a solução para o problema) é, na realidade, de natureza política e econômica.

A Vale é maior mineradora mundial de minério de ferro, produtora de ouro, exploradora de bauxita (matéria-prima do alumínio) bem como de titânio, no qual o Brasil é o maior detentor mundial do minério. Em matéria publicada pela Forbes em 2016 a empresa era apontada como a sexta maior do país, classificação que levava em consideração o lucro líquido, as vendas, os ativos e o valor de mercado. Não faltam para a Vale condições financeiras para investir em estruturas mais seguras, nem mão de obra tecnicamente qualificada para o trabalho. Não faltam condições para calcular e antever a alta probabilidade de incidentes como esses acontecerem. Falta, sim, interesse, e isso porque é mais lucrativo esperar tragédias acontecerem e confiar na impunidade.

Mariana é, nesse sentido um caso emblemático. Em julho de 2018, três após o rompimento da barragem, foi firmado um acordo entre o MPF e os representantes da Vale que, na ocasião, foi noticiado nos seguintes termos pela revista Veja: “O novo pacto extingue uma ação civil pública de 20 bilhões de reais e suspende a tramitação de outra, de 155 bilhões de reais, movida contra a empresa e as controladoras, os gigantes Vale e o anglo-australiano BHP Billiton”. As famílias atingidas em 2015 até hoje sofrem em razão do ocorrido, choram pelos seus mortos e não receberam na integralidade a devida indenização pelos danos sofridos. Os acionistas da Vale, no entanto, seguem recebendo gordos dividendos.

Até quando colocar vidas humanas em risco para minimizar os custos de produção vai ser, para empresas como a Vale, um bom negócio? Certamente, enquanto a impunidade for uma certeza com a qual puderem contar os poderosos.

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