Casamento
Adélia Prado
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me
levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e
salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na
cozinha,
de vez em quando os cotovelos se
esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a
primeira vez
atravessa a cozinha como um rio
profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
Texto extraído do livro “Adélia Prado –
Poesia Reunida”,
Ed. Siciliano – São Paulo, 1991, pág.
252.
No vídeo abaixo, Adélia interpreta este
belo poema.
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