Hábito
da leitura precisa ser resgatado
Joyce
Carvalho – 18/03/2007 – www.tribunapr.com.br
Acomodação. Esta é a palavra
usada por especialistas para definir a razão de um acontecimento cada vez mais
comum dentro das salas de aula. Muitos estudantes não estão preocupados em ler,
pesquisar ou aprofundar o conhecimento. A leitura deixou de ser algo
prioritário. Para muitos, ler é uma perda de tempo. Imagine então o que
acontece com a pesquisa para uma tarefa escolar ou universitária. Aí vem a
desculpa da correria do dia a dia. É mais rápido e mais cômodo fazer o CTRL C +
CTRL V de uma página da internet. As consequências da falta de leitura e da
falta de aprofundamento são visíveis.
Hoje em dia, os alunos já
entram no ensino fundamental pensando em estudar ou decorar a matéria para
aquele momento, para conseguir uma nota satisfatória. Não pensa em realmente
aprender. Os estudantes não têm noção da importância da educação. Mas também
não são levados a pensar diferente. As pessoas estão acomodadas. Ainda há
tempo, mas fica cada vez mais difícil. A mente gosta de desafios. À medida que
não é usada, atrofia. Se faz o mínimo possível, opina Paulo Cardoso, professor
das disciplinas de Filosofia, Sociologia e Metodologia do campus Campo Mourão
da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). De acordo com ele, há um
pensamento imediatista. O conhecimento é encarado como algo imediato para tirar
a nota necessária para passar de ano.
A professora Marta Moraes da
Costa, do curso de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e
colaboradora da seção O Estado Educa, acredita que o CTRL C + CTRL V é o
verdadeiro sinal da acomodação. Isto ainda demostra o contentamento com pouco.
Os estudantes copiam o que encontram na internet e ainda pegam o primeiro texto
que veem. Eu não sou contra computador. Mas é um absurdo o que está
acontecendo. E ainda há professores que fecham os olhos para isto e dão a nota.
Já estamos percebendo as consequências disso. A acomodação se instala em toda a
sociedade, cada vez mais. As pessoas engolem o que é apresentado para elas. E
pronto, analisa.
Cardoso lembra que a
tecnologia, algo irreversível na nossa sociedade, veio para facilitar os
processos e dar mais condições para o conhecimento. Mas, a pressa presente em
todos os setores da vida moderna acaba forçando a abreviação de tarefas. E,
neste fenômeno, entrou a cópia de materiais encontrados na internet. O
conhecimento passa a ser superficial, de aparência. O estudante não tem domínio
nenhum sobre o que está sendo apresentado. Fico assustado porque tem sites que
oferecem monografias prontas. E o que é mais fácil? Pesquisar, procurar,
escrever ou copiar, questiona.
O professor acredita que as
ferramentas tecnológicas devem ser usadas pelos professores para atrair os
alunos. Um exemplo é o uso de multimídia. Além disso, o professor precisa aliar
o conhecimento aos assuntos atuais. O professor precisa incentivar e motivar o
aluno. Os alunos estão cheios de aparatos tecnológicos, como o MP4. A
velocidade para eles é enorme.
Em média, o brasileiro lê dois
livros por ano. Por aí já é possível perceber como a leitura está
desprestigiada. Em casa não há estímulo. Na escola, o aluno se acomoda. A gente
sente que grande parte dos estudantes não possuem estímulo para a leitura em
casa. É uma briga fazer o aluno despertar para isto. Se não fosse pela escola,
muitos alunos não estariam interessados, analisa Martinha Aparecida Vieira,
professora de Língua Portuguesa e Literatura do Colégio Medianeira, de
Curitiba.
Muitos estudantes não leem
como deveriam. Não leem nem mesmo as publicações indicadas para trabalhos
escolares ou concursos, como o vestibular. Afinal, o que seriam dos tais resumos,
que isentam qualquer um do trabalho de ler? A leitura não está acontecendo.
Conversando com os alunos, você percebe que há pouca informação. Isto está
comprovado na escola e na universidade. A leitura é uma questão complexa. De
modo geral, está acontecendo uma desvalorização do conhecimento, apesar das
exigências do mercado de trabalho. Já tive notícia de que, em uma sala do 1.º
ano na universidade, nenhum aluno nunca tinha lido um livro inteiro sequer,
comenta a professora Marta Moraes da Costa.
A falta de leitura traz consequências
sérias. Uma delas é a perda de visão do mundo. Quanto mais se limita a leitura,
menor é a visão do mundo. A pessoa não consegue fazer a relação entre as
coisas. É muito menor a possibilidade de pensar por si mesma, explica Martinha.
Marta Moraes da Costa acredita
que a sociedade atual é composta por um pensamento único. As opiniões de cada
um são uma repetição do que ouviu falar. As pessoas que não aprofundam seu
conhecimento e que não leem regularmente só absorvem as informações passadas
por outros e as transforma em suas. As pessoas não procuram aprofundar o que
ouvem. Se contentam em repetir o que ouviram de outra pessoa. As pessoas
realmente estão acomodadas, classifica. Para a professora Marta, a solução
passa pela conscientização e pela ação. E todo mundo tem responsabilidade sobre
isto.
Quanto mais o tempo passa,
fica mais difícil inserir na rotina de alguém o hábito da leitura e estímulo de
procurar por mais informação. Por isso, se tornou necessário apresentar as vantagens
da leitura no processo do conhecimento cada vez mais cedo. Apesar da inércia de
muitos pais e professores, há iniciativas interessantes neste sentido.
O Colégio Medianeira, por
exemplo, coloca em prática desde 2000 o projeto Sujeitos Leitores, que reúne
todas as estratégias de incentivo à leitura. Entre as ações estão aulas
semanais em uma sala especial de leitura ou no bosque da escola. Foi o que
aconteceu na semana passada com os alunos da 8.ª série do ensino fundamental. A
professora Martinha Aparecida Vieira aproveitou o sol e os levou para o bosque.
Lá, alunos e professora conversaram sobre a evolução na produção de textos,
conforme o crescimento físico e intelectual do escritor.
No primeiro semestre do ano,
os alunos também participam da Semana da Leitura, quando acontece uma feira do
livro e palestras com escritores. Além disso, os estudantes de todas as séries
produzem textos durante o ano letivo, dentro das matérias programadas.
Os textos vão sendo analisados
e escolhidos pelos professores, sem que os alunos saibam. No final do ano, os
textos selecionados dão origem a um livro, distribuído para os próprios alunos,
funcionários e professores do colégio. Com direito até a uma noite de
autógrafos. A escrita e a leitura estão totalmente relacionadas. A partir do
momento que eles escrevem e têm reconhecimento, passam a valorizar mais a
leitura. Passam a entender que a escrita tem um propósito, principalmente de
provocar a cabeça do leitor. A partir do momento que a leitura é inserida no
dia a dia, ela começar a fazer parte, conta Martinha.
A aluna da 8.ª série Corina Midori Mitani, de 13 anos, revela que
despertou para o real sentido da leitura há pouco tempo. Comecei lendo gibi e
depois fui evoluindo. Mas foi a partir de agora que realmente descobri que
gosto. Leio em casa, antes de dormir. Álvaro Sobral de Oliveira e Pedro
Henrique Morcelli de Castro, também alunos da 8.ª série, dizem que adoram ler. Para
mim, essa rotina de leitura começou com o Harry Potter. Isto foi o início para
outras leituras, conta Álvaro. Antes, eu gostava de ler apenas livros de
detetive. Depois, aprendi a ler sobre outros assuntos, relata Pedro Henrique.
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