Intertextualidade
nos anos finais do ensino fundamental
O livro nos propõe debruçar-nos sobre a leitura “como objeto de estudo” para o atendimento de algumas
questões teóricas como:
“O que se pretende com a exploração de textos na sala de aula?”
“Como melhorar o desempenho do aluno-leitor proporcionando ao
professor-mediador ferramentas adequadas a uma abordagem de texto mais
proficiente?”.
Segundo Maria Sílvia Gonçalves, a autora de O mundo na sala de aula, a leitura é o passaporte para a
transformação social: ela é instrumento de conscientização, pois incide sobre a
produção cultural, tornando-se uma forma de aproximação entre os indivíduos e
essa produção, capacitando-os à crítica e à apropriação do conhecimento.
Maria Sílvia parte do princípio de que o trabalho com a intertextualidade é potencializador da
leitura, tornando-a mais proficiente, uma vez que “os textos produzidos em nosso
mundo cultural também dialogam entre si, quer pela voz de seus locutores, quer
pela voz de seus leitores” (p. 52). A construção dos sentidos advém de uma
atividade inferencial, “possível graças às experiências e conhecimentos
compartilhados por uma coletividade” (p. 49).
O objetivo da obra é “chegar a uma proposta alternativa de abordagem do
texto que conduza a uma leitura escolar mais significativa, justamente por ser
intertextual” (p. 22). Dessa forma, no decorrer do livro, são elaboradas
considerações sobre como vêm sendo conduzidas as atividades com textos na sala
de aula, momento em que se propõe uma “melhora qualitativa na abordagem textual
por meio de atividades inferenciais em que se estabeleçam relações,
desenvolvam-se raciocínios e deduções” (p. 8).
“os
textos produzidos em nosso mundo cultural também dialogam entre si, quer pela
voz de seus locutores, quer pela voz de seus leitores”
Com o intuito de chegar ao seu objetivo, Maria Silvia Gonçalves
apresenta a configuração das relações leitor-texto para justificar o nível de
exigência requisitado do aluno, considerando-se seu estágio de desenvolvimento
cognitivo e a linguagem como sistema
simbólico interativo e mediador na relação do sujeito-objeto: a autora delineia
o perfil do leitor em formação levando em conta o aspecto cognitivo, os
aspectos físico-emocionais e os aspectos social, profissional e cultural.
Nesse percurso, ela reforça a importância do desenvolvimento de um
trabalho humanista na escola, baseado na ética, na integridade, na valorização
do estudo e na responsabilidade do indivíduo em formação, trabalho que parta do
fato de a escola oferecer ao jovem em formação um “modelo de ser humano a
partir do qual (ou contra o qual) a subjetividade do aluno vai se formar” (p. 43),
pois, muito “além da preocupação em formar um leitor competente, estamos
falando em formar cidadãos dignos, justos, corretos, honestos, solidários e
éticos” (p. 43).
O livro ainda traz um capítulo (capítulo IV) todo dedicado a traçar
teoricamente uma trajetória da intertextualidade
e de conceitos afins (como a interdiscursividade),
desde que esta expressão foi utilizada pela primeira vez na década de 1960, até
a descrição de seu conceito nos campos da literatura,
da estética, da linguística textual,
da análise do discurso, por meio dos
escritos de pesquisadores como Gérard
Genette, por exemplo.
A obra está teoricamente embasada em pesquisadores como Vygotsky, Bakhtin, Marcuschi, Maria
Thereza Rocco, Manguel, Roxane Rojo, Genette, Irene Machado, Foucambert, Edgar Morin,
entre outros, e a autora estabelece conexões com os campos da linguística textual,
da análise do discurso, da teoria da
complexidade, com os estudos sobre o dialogismo,
os gêneros e, finalmente, com a interdisciplinaridade,
cujas relações com a leitura intertextual “foram apontadas como alternativas
para a formação de um leitor-cidadão crítico e consciente, que seja ciente de
sua realidade e capacitado para o enfrentamento das situações-problema” (p. 9).
Considerando-se que há algum tempo a intertextualidade vem sendo o tema
de diversos estudos sobre o trabalho com textos e sobre a sua importância para
a leitura proficiente, a relevância
da obra recai sobre sua organização didática e sua linguagem mais simples para
professores que ainda não tenham tido contato com o tema, assim como pelo
capítulo com sugestões de sequências
didáticas que podem servir como encaminhamentos, pontos de partida e de
reflexão para o trabalho com textos, mas que necessariamente têm de ser
adaptadas ao imediato contexto de trabalho em sala de aula, visto que, conforme
a perspectiva preconizada pela autora, o livro busca dialogar com os
profissionais de ensino que pretendam atuar como professores-mediadores, como
agentes de cultura.
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