Museu Nacional abrigava múmias e o crânio de mais antiga brasileira
Vinculado
à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), museu foi destruído após
incêndio: conheça seu acervo, que era o maior da América Latina
O fogo que consumiu as estruturas do Museu Nacional é a imagem-símbolo
de como o Brasil costuma lidar com a ciência e a preservação de nossa história.
Com 200 anos completos no dia seis de junho, essa era a mais antiga instituição
científica do Brasil e dona do maior acervo de história natural da América
Latina, com mais de 20 milhões de itens. Nos últimos anos, entretanto, o
orçamento destinado ao museu ficou cada vez mais reduzido, deixando evidente a
necessidade de reformas para a preservação do acervo. Não deu tempo.
O incêndio, que começou por volta das 19h30 do domingo 02 de Setembro,
não deixou feridos. Ainda não é possível saber como o fogo começou e nem a
extensão dos danos ao acervo do museu, localizado no Palácio de São Cristóvão,
na Quinta da Boa Vista. Mas as imagens divulgadas dão conta que o estrago é
grande: milhares de itens em exposição e que estavam nos arquivos da
instituição correm o risco de serem destruídos pelo fogo.
São verdadeiras relíquias da história: a maior coleção de meteoritos do
Brasil, fósseis de milhões de anos e o crânio de Luzia, o mais antigo registro
humano das Américas que foi encontrado em Lagoa Santa (MG). Além de itens
históricos dos povos que formaram o país, o Museu Nacional também abrigava um
acervo com objetos da Antiguidade greco-romana e até a maior coleção de história
egípcia da América Latina.
Sob o nome de Museu Real, a
instituição foi fundada pelo rei Dom
João VI em 6 de junho de 1818, quando o Brasil ainda era uma colônia
portuguesa. Ao longo do século 19, após a independência, o museu se tornou uma
das instituições mais importantes das Américas. O Palácio de São Cristóvão,
antiga residência destinada à monarquia brasileira e localizado na zona norte
do Rio de Janeiro, tornou-se sede do Museu Nacional em 1892, após a Proclamação
da República.
Durante 200 anos, a instituição recebeu diferentes itens que contam o
passado brasileiro. Desde 1946, o Museu Nacional era vinculado à Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que atualmente passa por problemas
financeiros graves. Desde 2014, o museu recebia apenas parcialmente a verba
anual de R$ 520 mil destinada à conservação do local. Em 2018, algumas salas
estavam fechadas por conta da falta de verbas.
Confira a seguir alguns dos principais itens que pertenciam ao acervo do
Museu:
Meteorito do Bendegó
Descoberto em 1784 no interior da Bahia, o meteorito do Bendegó é o
maior já encontrado no país e pesa 5,36 toneladas. Composto de ferro e níquel,
mede mais de dois metros de comprimento. Foi transferido para o museu a mando
do imperador brasileiro Dom Pedro II.
O crânio de Luzia
Com idade estimada entre 12,5 mil e 13 mil anos, o fóssil foi encontrado
em 1974 na região de Lagoa Santa (Minas Gerais) e batizado como "a
primeira brasileira". Em 1988, o pesquisador Walter Neves percebeu que a
ossada era bem diferente da dos índios brasileiros atuais. Assim, os cientistas
começaram a desconfiar que, além da primeira, uma segunda onda migratória, com
traços mais asiáticos, poderia ter ocorrido há mais de 12 mil anos.
Coleção egípcia
O Museu Nacional era um dos únicos do planeta que preservava uma múmia
do Antigo Egito de maneira intacta. Adquiridas em 1826 por Dom Pedro II, a
coleção de sarcófagos e de restos mortais mumificados era a maior da América
Latina. Um dos túmulos nunca foi aberto por um pedido expresso do imperador: os
pesquisadores cumpriram a promessa e fizeram posteriormente uma análise a
partir de tomografias computadorizadas.
No acervo, há o esqueleto de um gato mumificado (animal que era
considerado uma divindade no Egito Antigo), além da múmia de uma cantora
religiosa que atuava no templo do deus Amon. Ao realizar uma análise, foi
possível verificar que a garganta da mulher fora "preservada" com
tecido e resina para cumprir seu papel no pós-morte.
Arqueologia clássica
Assim como nos grandes museus europeus, a instituição brasileira possuía
um acervo de obras e estátuas da Antiguidade graças ao apoio da família
imperial brasileira: Tereza Cristina, que se casou com Dom Pedro II, trouxe uma
coleção de objetos resgatados da cidade romana de Pompeia, destruída em 79 d.C
após a erupção do vulcão Vesúvio. O museu também adquiriu posteriormente
dezenas de objetos da época clássica, como cálices do século 8 a.C, vasos do
século 4 a.C e estátuas atribuídas a divindades greco-romanas.
Paleontologia
Reprodução de um pterossauro
Com um dos maiores acervos da América Latina, o Museu Nacional contava com fósseis encontrados no Brasil de diferentes períodos geológicos. A coleção de pterossauros era considerada uma das mais completas do planeta, além de exemplares de dinossauros que habitavam o território que atualmente corresponde ao nosso país.
Esqueleto de baleia jubarte
Encontrado em Paraty, no Rio de Janeiro, o esqueleto completo de uma
baleia jubarte estava retirado da exposição aos visitantes há 10 anos por conta
de falta de orçamento para a conservação. Neste ano, para comemorar os 200 anos
do Museu Nacional, o esqueleto de 17 metros seria exibido novamente para o
público, mas a manutenção da sala sofria com a escassez de verbas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário