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sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Religião de vida, não apenas de preceitos


UMA REFLEXÃO Mc 7,1-8.14-15.21-23
  

Padre Ivo Pedro Oro

Apesar do aumento do número de pessoas “sem religião” e de muitas igrejas terem menos participação em seus momentos celebrativos e cultuais, ainda uma grande maioria da humanidade é muito religiosa. A questão que se coloca é: em que consiste a prática de sua fé? O que e em que creem verdadeiramente? Muitos não frequentam rituais em templos, porém, ritualizam muitos momentos de sua vida. São verdadeiros ritos sociais e familiares. Em tais datas e momentos tem que haver tais coisas, senão não há vida nem festa. “A força do costume é grande. Os convencionalismos sociais impõem-se. E, por outro lado, busca-se de alguma forma estar de bem com Deus e contar com sua proteção divina.” (Pagola. O Caminho Aberto por Jesus – Marcos, p. 147)... Estamos no primeiro domingo do mês da Bíblia. O que ela nos ensina hoje?... O Evangelho deste domingo nos ilumina e nos chama a não vivermos uma religião formal, de preceitos, de ritos exteriores, de atos convencionais; ao contrário, viver a fé cristã também em nosso interior, nas opções de vida, nas atitudes, valores e ações.

Religião vazia

Fariseus e escribas questionam Jesus: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?” (“purificar” não era somente lavar as mãos, mas era fazer um rápido ritual para evitar e purificar do contato com pessoas e/ou coisas impuras do mundo). Jesus aproveita a chance para desmascarar e denunciar as “armadilhas e perigos” da religião na forma como eles praticavam. Jesus lhes diz: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”. O cristianismo, pode-se dizer, é a religião da vida. O Reino de Deus é reino de vida e liberdade, de vida em plenitude. O que Jesus queria e ajudava as pessoas, era a terem vida melhor, com mais dignidade. Sua preocupação não era nem rituais nem saber de cor doutrinas. Sua maior insistência era que Deus é Pai e nós precisamos ser e viver como irmãos e irmãs. Religião de preceitos a serem cumpridos sem viver o amor e a justiça, reduz-se à exterioridade, por dentro é vazia.

A vontade de Deus, não as tradições

Abandonar o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens é uma religião falsa. Continuamente – e o evangelho cita diversas vezes – Jesus dizia que ele veio para fazer a vontade do Pai, e que seu alimento era fazer a vontade do Pai. Seguir tradições, sobretudo as que não promovem a vida, o amor, a prática da justiça e do cuidado do ser humano, não agrada a Deus. Não é esta a sua vontade nem o seu projeto para a humanidade. Pior ainda, quando as tradições são cumpridas exteriormente para aparecer e granjear prestígio e fingir que está no caminho de Deus. No tempo de Jesus, insinuavam como preceito de Deus até práticas culturais, etiquetas sociais e costumes tradicionais. Deus quer a vida dos seres humanos, seus filhos e filhas.

Coração distante de Deus

O que Jesus falou aos fariseus e escribas, pode falar para hoje também: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim”. Às vezes, nem com os lábios, somente com os olhos. Há católicos que têm imagens, medalhas, correntinhas, terços, mas não têm momentos de oração verdadeira. Apenas olham para os “objetos sagrados”. Muitos não rejeitam os sacramentos, como primeiras eucaristias, batizados e casamento na igreja, mas os vivenciam apenas como ato social, não como encontro sincero e celebrativo com Deus e com a comunidade cristã. Não são poucos os que meneiam a cabeça quando um padre, na homilia, aponta para o compromisso cristão de transformação social, ou olham no relógio quando, devagar, vai vivenciando calmamente os ritos da liturgia. Para muitos, “o que realmente importa é o vestido da menina, a foto dos noivos, as flores do altar ou o vídeo da cerimônia. Que tudo saia ‘muito bonito e emocionante’” (id., p. 147). Não podemos esquecer que “o culto agrada a Deus quando se produz um verdadeiro encontro com Ele, quando se experimenta com alegria e prazer seu amor salvador e quando se ouve seu chamado a viver uma vida mais fiel ao evangelho de Jesus e ao seu projeto do reino de Deus” (id., p. 148).

O evangelho nos convida, não a rituais formais e exteriores, mas a viver a vontade de Deus. “Guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus”, e “porque neles está vossa sabedoria e inteligência perante os povos...” (Dt 4,1-2,6-8 – 1ª.Leitura). Como nos ensina São Tiago: “Sede praticantes da Palavra, não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tgo 1,17-18.21b-22.27- 2ª. leitura).

Em sintonia com o Grito dos Excluídos e coerentes com a Palavra de Deus, reafirmamos neste domingo: A vida em primeiro lugar! DESIGUALDADE GERA VIOLÊNCIA! BASTA DE PRIVILÉGIOS!

Padre Ivo Pedro Oro | URL: https://wp.me/p6VVFA-QW

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